A nossa dor e a nossa felicidade

Após o terrível mal-estar digestivo que sentiu de segunda para terça-feira, a melhor coisa que fizemos foi colocar a Vitória no soro e deixá-la descansar. E foi isso que ela fez. Dormiu, dormiu e dormiu por longas horas a fio. Na quarta-feira às 6h da manhã, ela acordou e lhe ofereci uma papinha de fruta. Ela pareceu um pouco nauseada mas conseguiu comer umas cinco colheradas e ficou bem, sem aparentar dor ou desconforto depois. Ao longo do dia fomos lhe oferecendo a cada duas horas alimento ou líquido em pequenas quantidades, 50 ml de suco, 5 colheres de sopa. Ela aceitou bem, mas às vezes ainda nauseava um pouco.

À tarde recebemos a visita da gastro que foi muito atenciosa e após ouvir nosso relato detalhado das crises de gases e dor após a infecção, a dieta enteral e à volta da alimentação oral, disse que talvez a Vitória tenha tido uma sensibilização gástrica e alteração da motilidade intestinal devido à infecção e a todo o estresse. Ela prescreveu omeprazol para proteger o estômago e floratil para recuperação da flora intestinal. Ela não solicitou nenhum exame para evitar uma nova situação de estresse. Com crianças geralmente é melhor medicar somente a partir dos sintomas.

Hoje a Vitória já conseguiu comer um pouco melhor e com volumes maiores, mas ainda está com soro e continua bem dorminhoca, descansando bastante, dormindo tranquila e só acordando para comer.

A tarde a nefro pediu para sacarem a sonda vesical (da urina), e finalmente ela pôde tomar um banho de banheira. Nos últimos dias só estava tomando banho de leito e olhe lá. Outra coisa boa é que enquanto arrumava as coisas para o banho após a retirada da sonda, ela fez um baita xixi na cama - conseguiu urinar espontaneamente bem rápido.

Também pudemos lhe colocar uma calça e deixá-la com as perninhas mais quentes - aqui em São Paulo tem feito uns dias chuvosos e fresquinhos. Agora à noite ela suspirava enquanto dormia, demonstrando alegria e tranquilidade - o mesmo suspiro que faz quando ganha beijinhos e carinhos do papai e da mamãe ou quando enche a barriguinha com um alimento gostoso.

Ela ainda está recebendo um soro de manutenção enquanto se recupera do desconforto digestivo. Amanhã é o último dia do antibiótico e então acho que entre amanhã e sábado ela estará de alta.

Sexta-feira é seu aniversário, quando se completam dois anos daquele dia em que ela nasceu chorando e, entre sorrisos e lágrimas, tivemos mais certeza daquilo que já críamos com todo o nosso coração. Amá-la e aceitá-la era o melhor caminho. E assim temos percorrido o nosso caminho, passo após passo a nossa história de vida. Capítulo após capítulo que têm sido conduzidos por Deus. Eu não queria que essa história tivesse um novo capítulo de dor. Eu queria que minha florzinha só tivesse momentos de paz. Mas eu sei que o sofrimento faz parte dessa vida, e não se pode viver aqui e estar totalmente isento à dor. E eu sei que a vida dela não é uma escolha minha, mas de Deus. Mas eu escolhi percorrer um caminho e viver uma história em que, sim, eu sabia, haveria dor. Porque, eu pensava, fugindo da dor eu estaria fugindo da vida. Não somente da vida da minha filha, mas da minha própria vida e da minha própria história. E, quem sabe, até de mim mesma. Como rejeitar alguém que já era parte de mim?

Vivendo a minha própria história, sofrendo a minha dor, eu tenho sido capaz de viver a minha própria felicidade, e não uma felicidade fabricada e idealizada pela sociedade: cômoda, conveniente e, infelizmente, tantas vezes pálida e opaca - uma sociedade que tem imensa dificuldade, tantas vezes, em respeitar e valorizar a vida, e que esconde essa sua dificuldade atrás do preconceito e da pena.

Eu vivo uma felicidade que não é isenta de dor, de medo e de frustração, mas é verdadeira, é viva.

E agora eu vivo as nossas vitórias, a nossa superação, a nossa vida.

Havíamos planejado fazer uma pequena festinha para nossa amada filha no dia 14, somente para a família, que iríamos organizar nestes primeiros dias de janeiro. Adiamos para a próxima semana devido à internação de nossa preciosa Vitória. Então ela vai completar seu segundo aninho de vida sem festinha, talvez saindo do hospital ou se readaptando em casa. Neste momento isso não importa, porque a festa está em nossos corações. Estamos juntos e felizes.

Agradecemos a Deus pela proteçao e direção e colocamos nas mãos dele o nosso futuro com nossa filha.

*Agradeço também os amigos que vieram nos visitar no hospital mesmo em um período de descanso, festas e férias, os queridos Alexandre e Regiane, Letícia, Bete e Milton, e André. E também as mensagens, ligações e comentários de amigos queridos aqui do blog, ao mesmo tempo tão longe e tão perto nos encorajando e nos apoiando em oração.*