segunda-feira, 15 de outubro de 2012
Um pouco sobre primavera, lágrimas e palavras
"Como são felizes os que em ti encontram sua força, e os que são peregrinos de coração! Ao passarem pelo vale de Baca (de lágrimas), fazem dele um lugar de fontes; as chuvas de outono também o enchem de cisternas. Prosseguem o caminho de força em força, até que cada um se apresente a Deus em Sião". Salmol 84:5-7
"Digo-lhes que certamente vocês chorarão e se lamentarão, mas o mundo se alegrará. vocês se entristecerão, mas a tristeza de vocês se transformará em alegria. (...) Assim acontece com vocês: agora é hora de tristeza para vocês, mas eu os verei outra vez, e vocês se alegrarão, e ninguém lhes tirará essa alegria". (Jesus, em seu último dia de vida na terra, citado por João 16:20; 22)
Queridos amigos!
Primeiramente muito obrigada por todos que continuam acessando o blog, passando por aqui para rever as preciosas lembranças da nossa gatinha e para deixar um abraço e uma palavra de carinho. Me desculpem pela ausência!
Sou imensamente grata por ter tantos amigos especiais que conheci aqui por meio do blog, e receber todo o carinho de pessoas que amam nossa princesinha, que expressam o quanto sentem a falta dela e se alegram conosco com suas lindas lembranças!
Algumas vezes cheguei a vir aqui para escrever e os textos começam a ficar muito longos e acabo não terminando. Fico meio sem saber por onde começar e por onde terminar agora que nossa gatinha não está mais conosco.
Gostaria de escrever mais sobre como foram seus últimos momentos conosco e o dia da sua despedida desta terra. Também percebo como para algumas pessoas esse assunto é extremamente desconcertante e difícil - as pessoas vivem em um espécie de tola ilusão de que a morte é alguma coisa muito distante e irreal. Muitos também tem uma visão extremamente triste e pesada da morte, talvez por uma questão cultural ou por uma falta de esperança e fé com raízes mais profundas - não sei, mas esse assunto acabará sendo abordado mais para frente por aqui.
Gostaria de ter escrito sobre a chegada da primavera e sobre como ela jamais será tão bela quanto já foi, pois agora a mais bela florzinha não está nesta terra. Gostaria de compartilhar mais como algumas noites foram difíceis com insônia e saudade, e como algumas palavras de Jesus e algumas promessas da Bíblia têm o poder de me transportar da profunda tristeza para o mais alegre júbilo e esperança.
E compartilhar ainda que nos últimos meses revi todos os 15 mil arquivos de fotos e vídeos que registramos de momentos de nossa querida Vitória, e de tantos momentos lindos, em que podemos perceber toda a sua doçura e delicadeza e como ela se sentia amada. E como nós a amamos!
Claro que nunca será a mesma coisa passar por aqui e não ter o que compartilhar sobre as novidades da nossa amada Vitória. Agora que escrevo meu coração dói de saudade dos momentos incríveis que sempre tinha para contar, mostrar fotos maravilhosas, e saber que todos iriam ficar muito felizes com cada boa notícia sobre ela.
Dentro desse contexto de imensa saudade, de um certo vazio que ficou na casa e nos nossos corações com sua ausência (um espaço que permanecerá sempre para ela e que só Deus pode preencher), dentro do fato de que se passaram quase três meses da sua partida e parece que foram uns 20 anos tamanha é a saudade, dentro de tudo isso, acho que estamos bem.
Blogar sobre a nossa história de vida com uma pequena princesinha especial e guerreira foi uma emocionante aventura. Confesso que nunca fui adepta de redes sociais, sempre fui displicente em responder e-mails e atualizar novidades online. Só me interessei mais por esse mundo virtual quando a Vitória nasceu. A internet passou a ser uma maravilhosa ferramenta para me aproximar das pessoas e compartilhar a vida da minha filha. Abrimos nossa vida para mostrar um lindo milagre que recebemos de presente e dividir algo muito, muito valioso que estávamos aprendendo e que poucas pessoas conhecem, poucas tem oportunidade de vivenciar de perto e compreender - a não ser quem vive uma história semelhante. Claro que não abrimos toda a nossa vida, sempre fui uma pessoa muito reservada e o único motivo pelo qual entrei para esse mundo de blogs e redes sociais foi para dividir meu pequeno tesouro. Eu não podia guardar aquela linda princesa só para mim, ela era linda demais, preciosa demais e tê-la conosco era uma bênção enorme. Eu simplesmente precisava mostrar o quanto ela era valiosa para que as pessoas entendessem o que eu estava sentindo e vivendo. Para que pelo menos algumas pessoas pudessem aprender junto com a gente sobre o valor da vida e o valor de um filho especial.
Sei que tudo isso valeu muito a pena e a vida dela foi uma luz que iluminou incontáveis pessoas que nem conhecemos. Nós vivemos momentos de muita alegria, e perto disso qualquer dificuldade se torna pequena.
Sei que cumpri minha missão e durante todos os meses em que ela ficou conosco eu vim aqui compartilhar essa bênção.
Agora continuamos seguindo nossa vida, trabalhando, nos organizando e buscando também continuar ajudando a outros pais e mães - e também sendo ajudados!
Também comecei a trabalhar com atualização de blogs, redes sociais e sites corporativos - algo que realmente me sinto à vontade em fazer após mais de dois anos e meio escrevendo nesse blog criado para nossa princesinha. Isso também me permite uma maior flexibilidade de trabalhar em casa e desenvolver meus projetos pessoais sem fins lucrativos - que na verdade são os mais compensadores! Tem sido divertido mas também um pouco cansativo, o que também é muito bom!
Gostaria de aproveitar e compartilhar algo que me tocou em uma leitura. É interessante quando vivemos uma situação de perda e vemos as pessoas naquela situação que nós já passamos tantas vezes diante de outros amigos - o que dizer para a pessoa? Muitas vezes me vi totalmente sem jeito diante de um colega de trabalho que perdeu um familiar próximo, um amigo e até outros pais que conhecemos pela internet que também perderam seus amados filhos. Algumas vezes eu já pensei que era melhor não falar nada, que talvez tocar no assunto poderia fazer a pessoa lembrar daquela situação e entristecê-la, outras vezes já achei que tinha que falar ou escrever alguma coisa que tivesse o poder de fazer a pessoa parar de sofrer, ajudando-a a ter fé e esperança... ou fiquei com medo de me aprofundar e falar alguma coisa errada e consegui apenas dizer algumas palavras breves como "sinto muito".
Bom, a conclusão a que cheguei é que não existe realmente uma fórmula correta sobre como agir ou o que dizer para uma pessoa amiga que perdeu alguém que amava. Mas tenho algumas pistas... acho que é realmente tolice evitar falar na pessoa que se foi para não deixar a pessoa triste. Você pode ter certeza que um pai e uma mãe jamais vão esquecer seu bebê amado, não importa quanto tempo tenha se passado. A cada dia das nossas vidas vamos nos lembrar de nossa amada Vitória e vamos querer preservar sua memória. E o que mais desejamos é que as pessoas que nos cercam também não se esqueçam dela e nos ajudem a preservar sua memória e continuar nutrindo carinho e amor por ela. E muitas vezes isso vai nos fazer sorrir. Mas se o choro vir em algum momento, às vezes isso é bom, porque nem sempre conseguimos chorar quando queremos. Às vezes precisamos mesmo de ajuda e de alguém que nos ouça e nos entenda e respeite nosso choro sem achar que alguma coisa está errada - sem tentar nos fazer parar de chorar e esquecer o "assunto".
Cada pessoa pode reagir de uma forma diferente, então vale a pena buscar saber como a pessoa está reagindo em vez de concluir que ela está depressiva e chorando todos os dias, ou se está lidando muito bem com a situação e não precisa de nenhum tipo de apoio ou palavra de consolo. Às vezes podemos estar em algum lugar intermediário entre um ponto e outro. E às vezes podemos viver intensamente todos estes momentos em uma única semana!
Mas acho que qualquer coisa que se faça ou se fale é valida quando é feita com amor.
Algumas pessoas ainda insistem em sentir pena - o que sempre afirmo que é desnecessário - nunca quis que sentissem pena de nossa princesa pois ela era muito amada e feliz; e jamais quero que sintam pena de nós porque somos muito abençoados e felizes! Se alguém deseja expressar algum sentimento, os melhores são o amor e a solidariedade. A pena apenas lamenta à distância, e fala pelas costas, a solidariedade se entristece com a perda, mas não deixa de se alegrar com o que foi bom. E fala de frente, abre o coração e se dispõe a ajudar com ações, com apoio e amizade. É isso que pais que têm um bebê especial ou que perderam um bebê especial precisam, em minha opinião!
Sei que palavras sempre serão insuficientes para traduzir tudo o que se sente, mas ainda assim é tão bom ouvir uma palavra amiga e palavras de carinho sobre aquela criança por quem sempre teremos o maior carinho do mundo!
Achei também muito legal esse trecho de um livro da escritora Stormie Omartian em que ela fala sobre como nós precisamos estar abertos a sentir o amor nas atitudes e palavras das pessoas independente da forma como elas cheguem até nós.
Embora todos os atos de compaixão, simpatia e amor dos outros para conosco possam ser de grande conforto e ajuda para nos tirar da tristeza, somente o toque de cura de Deus pode nos restaurar completamente. Não podemos esperar que meros seres humanos digam palavras que façam nossa dor desaparecer. Nem sempre as pessoas dizem a coisa certa; de qualquer forma, como as palavras podem ajudar? É o amor no coração, expressado de forma eloquente ou não, que nos traz conforto. Se nos prendermos às palavras, podemos perder de vista o amor por trás delas. Quando as pessoas tentam nos demonstrar amor nos nossos momentos de perda, precisamos permitir que façam isso e não criticá-las se não o fazem com perfeição. (Stormie Omartian, O poder da fé em tempos difíceis)
Gostaria de deixar essas palavras com vocês junto com algumas fotos de nossa amada Vitória, e lhes desejar uma excelente semana com muitas vitórias e alegrias!
quarta-feira, 12 de setembro de 2012
Homenagens de amigos e leitores
Homenagem feita pela leitora do blog, Nilma Pompeu
Homenagem feita pela leitora do blog, Anita Oli
Depois de dois anos e meio nossa querida Vitória se juntou ao coro de anjos no céu, e assim nos mostrou que a ciência pode se enganar, mas Deus não. Muito obrigada Vitória de Cristo!
Homenagem feita pelo Grupo de Apoyo Anencefalia (Facebook)

Homenagem feita pela Claudia Katalyne, de João Pessoa, PB
Homenagem feita pela tia Fran
Estou compartilhando algumas homenagens especiais que recebi de leitores do blog por e-mail ou Facebook, achei todas muito especiais! Bem como todas as mensagens carinhosas de pessoas que ainda escrevem para expressar que sentem pela sua partida e o quanto ela tocou suas vidas. Muito obrigada!
Nós estamos bem! Nem todos os dias consigo acessar a internet com tempo, e também tenho buscado me envolver com outras atividades... buscando um recomeço profissional, que não é fácil, também tentando ajudar outras famílias que entram em contato. É bastante estranho continuar, recomeçar, agora sem nossa amada Vitória conosco. Sinto um misto de saudade e tristeza, alegria e gratidão.
Diariamente penso na minha princesinha e revejo suas fotos. Sonho muito com ela (sonhos lindos e intensos, logo vou contar aqui!) e tenho também me dedicado a organizar o acervo das suas fotos e vídeos, que é um maravilhoso tesouro de lembranças. Por isso ainda não consegui chegar no começo do livro.
Ainda há muitas coisas preciosas para compartilhar, mas nesse momento tem sido bom ficar um pouco mais em silêncio, perto de Deus. Sei que se estou perto dele estou também perto da minha gatinha, pois ela está com Ele. Tenho a plena certeza de que ela ainda vive, que está muito bem, feliz, em paz... livre! Não é apenas uma crença, uma esperança, mas um fato espiritual que é testificado ao meu coração.
É com fé e esperança que seguimos, graças a Jesus. A fé é algo intangível, abstrato e invisível. Mas, quando colocada na pessoa certa, naquele que é o Autor da Vida, no Criador, é capaz de nos sustentar e proteger mais do que qualquer muralha ou fortaleza construída por mãos de homens.
Sentimos sua falta, princesinha, mas Jesus está cuidando de nós e de você até o nosso reencontro.
quarta-feira, 5 de setembro de 2012
Últimas visitas e momentos especiais
Nos últimos meses em que nossa princesinha esteve conosco ela estava ficando doente com mais frequência, o que felizmente não ocorreu durante a maior parte do tempo em que ela ficou conosco em casa - ela ficou mais de um ano sem precisar ir para o hospital e pudemos viver momentos de plena felicidade. Mesmo quando ela adoecia, também buscávamos fazer de tudo para que ela se sentisse bem e melhorasse logo. E buscávamos lhe passar muito amor, força e alegria. E em todas as vezes que ela melhorava pudemos viver momentos extremamente felizes, vendo-a sorrir, descansar tranquila e ser muito amada.




Passamos uma tarde também muito especial e alegre, e agradeço imensamente a Deus por todos estes momentos e por todas essas amizades.
Desculpem pois continuo não conseguindo responder a todas as mensagens e e-mails, mas leio a todos e fico muito feliz com cada pelavra de carinho, consolo, encorajamento e agradecimento pela vida de nossa princesa.
Um abraço!
quinta-feira, 30 de agosto de 2012
Momentos preciosos - Dormindo I
Relembrando alguns momentos preciosos com nossa amada princesinha!
Como ela dormia tão linda e tranquila com dois meses de vida!
segunda-feira, 20 de agosto de 2012
Quadrinhos, lembranças e esperanças!
Mas eu sou como uma oliveira que floresce na casa de Deus; confio no amor de Deus para todo o sempre. Para sempre te louvarei pelo que fizeste; na presença dos teus fiéis proclamarei o teu nome, porque tu és bom. Salmos 52:8-9
Nunca mais te servirá o sol para luz do dia nem com o seu resplendor a lua te iluminará; mas o SENHOR será a tua luz perpétua, e o teu Deus a tua glória. Nunca mais se porá o teu sol, nem a tua lua minguará; porque o SENHOR será a tua luz perpétua, e os dias do teu luto findarão. Isaías 60:19-20
O Espírito do Soberano Senhor está sobre mim, porque o Senhor ungiu-me para levar boas notícias aos pobres. Enviou-me para cuidar dos que estão com o coração quebrantado, anunciar liberdade aos cativos e libertação das trevas aos prisioneiros, para proclamar o ano da bondade do Senhor e o dia da vingança do nosso Deus; para consolar todos os que andam tristes, e dar a todos os que choram em Sião uma bela coroa em vez de cinzas, o óleo da alegria em vez de pranto, e um manto de louvor em vez de espírito deprimido. Eles serão chamados carvalhos de justiça, plantio do Senhor, para manifestação da sua glória. Isaías 61:1-3
Você já viu alguém lamentando a morte do bulbo da tulipa? O jardineiro chora quando o bulbo começa a enfraquecer? Claro que não. Não compramos cinta para a tulipa, nem creme anti-rugas-para-pétalas, nem consultamos o cirurgião-plástico-para-folhas. Não lamentamos a morte do bulbo; celebramo-la. Amantes de tulipas exultam no momento em que o bulbo cede: "Veja aquele", diz ele. "Está para florir". Poderia ser que o céu fizesse o mesmo? Os anjos apontam para o nosso corpo. Quanto mais frágeis nos tornamos, mais animados eles se tornam. "Veja aquela senhora no hospital, dizem eles. Está para florir". "Vigie aquele companheiro com o coração fraco. Logo ele estará vindo para o lar". Max Lucado, no livro Aliviando a Bagagem, p. 171-172
Boa semana a todos!
sexta-feira, 17 de agosto de 2012
Escrever, chorar, lembrar
Digo-lhes isto, meus irmãos: um corpo terreno, feito de carne e sangue, não pode herdar o Reino de Deus. Estes nossos corpos mortais não são do tipo adequado para viver eternamente. Porque nossos corpos terrenos, os que temos agora e que são mortais, precisam ser transformados em corpos celestiais, que não podem perecer, mas que viverão para todo o sempre. Quando isto acontecer, finalmente, se tornará verdadeira a Escritura: A morte foi tragada na vitória. Porque o pecado - o aguilhão que causa a morte - terá desaparecido completamente; e a lei, que revela os nossos pecados, já não será o nosso juiz. Como agradecemos a Deus por tudo isso! É Ele quem nos faz vitoriosos por meio de Jesus Cristo, nosso Senhor! (I Coríntios 15: 50; 53-57 - Bíblia Viva)
Na última semana, muitas datas nos aumentaram a saudade. Quinta-feira passada, completei 30 anos, o primeiro aniversário sem minha gatinha, que foi o meu presente desde a gestação, quando eu estava com 26. Domingo, dia dos pais sem nossa princesa - eu sempre a pegava de manhã e a levava para acordar o papai na cama lhe dando parabéns. Segunda-feira, completaram-se 2 anos e 7 meses do seu nascimento - seu primeiro mesversário em que ela não está mais conosco para comemorar. Terça-feira, quatro semanas do seu falecimento e finalmente hoje, sexta, um mês que ela se foi.
Essa noite não pude dormir. Sem que tivesse tivesse planejado fiquei em vigília pensando em minha filha amada que descansou no Senhor e lembrando como tudo aconteceu há exatamente um mês atrás. Orei, chorei, chorei, pensei, lembrei, chorei. Li dois capítulos perfeitos do livro Aliviando a Bagagem, de Max Lucado, intitulados Eu o Levarei para o Lar e Quase Céu, que falam sobre o fardo do túmulo e o fardo da saudade.
Depois de chorar mais um pouco, comecei a escrever, e claro, chorei sobre o teclado do computador enquanto escrevia e assoava o nariz, e gastava metros de papel higiênico para conseguir ver e respirar normalmente.
Considerando a pessoa chorona e sensível que sempre fui, digo com sinceridade que poucas vezes chorei na presença da minha princesinha. Era como se antes que as lágrimas saíssem ela já as enxugasse e me fizesse sorrir. Às vezes chorava e nem dava tempo de terminar de chorar e ela já estava me motivando a olhar para frente e esquecer o que por alguns momentos me causara tristeza. Nem dava tempo de escrever e já aconteciam coisas boas que precisavam ser relatadas urgentemente (sim, precisamos contar urgentemente as boas notícias de um bebê-milagre). Mas houve algumas ocasiões muito difíceis ao longo dessa caminhada em que foi preciso chorar aos pés de Jesus (daquelas vezes que choramos até ficar desidratados) e foi desses momentos que eu lembrei junto com o choro da saudade da minha pequena.
Depois de chorar, escrever, escrever e chorar, fui salvar o que tinha escrito e achei 2 posts inéditos de quando nossa gatinha estava com um mês de vida na UTI. Então vou postar abaixo as lembranças do começo e do fim da nossa história com nossa amada Vitória de Cristo, aqui nessa terra.
Senhor, seja feita a Tua vontade
Quando vi a Vitória pela primeira vez, em seu primeiro dia de vida, fiquei muito confusa. Cheguei a pensar se havia feito a coisa certa mesmo em permitir que ela viesse ao mundo com vida. Seria certo deixá-la viver com um problema tão grave? Será que eu tinha sido teimosa e louca em lutar durante toda a gestação por sua vida? Ao ver sua cabecinha aberta, tão frágil e diferente, pensei que o melhor mesmo seria que ela estivesse com Deus. Que Deus a levasse. Eu lhe disse que a amava, que a abençoava, e que se quisesse ir com Ele, estava livre. Não ia mais ficar suplicando a Deus que a fizesse viver. Ia deixá-lo decidir as coisas sem ficar lhe dando orientações. No seu terceiro dia de vida, minha médica prescreveu para mim uma medicação para secar o leite, já que não poderia amamentá-la. Já que provavelmente ela não viveria por mais muito tempo - foi o que todos pensaram, mas ninguém falou, inclusive eu. Eu estava com muita dor e cansada de lutar. Dor no corpo e dor no coração. Nem sei o que doía mais.
Mas ela continuou vivendo mesmo assim. Percebi que de fato Deus estava agindo naquela pequena vida. Ele tinha ouvido nossas orações loucas e ousadas para que um milagre acontecesse, para que ela fosse curada. Para que ela vivesse. Deus permitiu que ela nascesse com uma malformação incompatível com a vida. Mas estava fazendo com que ela vivesse. O milagre que pedimos estava sendo feito - mas da forma como Deus considerou melhor.
Foi então que criei coragem de fazer a oração de Jesus: Senhor, que seja feita a tua vontade, e não a minha. Mas é dificil pensar que a vontade de Deus pode ser levá-la. Percebi que passei a maior parte da minha vida pedindo a Deus: Senhor, por favor, faça a minha vontade. Percebi que muitas vezes conversei com Deus tentando convencê-lo que Ele não estava fazendo a coisa certa em minha vida. Tentando dizer para Deus o que fazer, e tentando dizer a Deus como ser Deus.
Três dias após o parto da Vitória, por volta das quatro horas da manhã, acordei e imediatamente pensei nela. Como ela estaria? Será que ainda estava viva? Será que quando fosse vê-la mais tarde ela ainda estaria lá? Como gostaria de vê-la, de tocá-la novamente, segurar sua mãozinha e dizer para ela que a amava.
Fiquei pensando: Que bom que Deus não a levou assim que nasceu. Num momento de fragilidade e tristeza eu pensei que o melhor seria Deus levá-la. Mas agora estava desejando imensamente que ela vivesse. Como estaria triste, com um grande vazio no coração, se ela estivesse morta. Como teria sido triste não conhecê-la com vida. Deus sabia o que estava fazendo. Deus sabia o que era melhor para mim.
Tudo o que estamos vivendo é tão diferente, e eu não sei mais o que é melhor ou pior para mim, para meu marido ou para minha filha. Eu preciso de Deus. Preciso que Ele faça o que Ele sabe que é melhor. Ele é o autor da vida. A Vitória pertence a Ele. Senhor, que seja feita a tua vontade, pois a tua vontade é o melhor.
Muito obrigada pela vida da Vitória!
(fevereiro de 2010)
Mãe e filha juntas e felizes
Hoje foi maravilhoso vê-la mais gordinha e forte. Foi como se ali estivesse uma nova Vitória, pronta a ser novamente descoberta e conhecida. Novas expressões e gestos. Um rostinho diferente, com bochechas mais fofinhas. Carreguei-a no colo, ela começou a ficar incomodada e reclamar. Mudei-a de posição, ela se aquietou e dormiu. Tive novamente a sensação da gestação, de sermos uma coisa só. Não que eu não saiba que ela é um ser diferente e independente. Apesar de sua fragilidade, ela deixa isso claro a todo o tempo, com suas vontades e sua personalidade. Mas senti como se fôssemos uma equipe. Mãe e filha juntas e felizes. Amigas. Muito unidas. Plenas.
Quando estou com ela, tudo aquilo que preocupa e inquieta tanto as pessoas - sua grave malformação, as dúvidas sobre suas capacidades, ou seja, suas possíveis deficiências, essas coisas não têm nenhuma importância. Importa apenas que existimos, estamos juntas e somos felizes. Nada atrapalha nossa interação. E difícil explicar isso para as pessoas, quando perguntam em tom sério e preocupado como estamos reagindo a essa situação. A única situação que existe é que temos uma filha linda e que precisa de cuidados diferentes dos de outros bebês. Ela é apenas diferente. Sei que essa diferença pode um dia levá-la de nós. E isso dói. Essa diferença traz algumas limitações, pois ela tem que ficar no hospital o tempo todo. Mas a alegria de ela existir e passarmos momentos maravilhosos juntas faz com que a dor desapareça.
Há apenas 3 dias ela estava mal, vomitando com frequência e com inínio de infecção. Foi preciso passar um catéter pela veia até o coração para receber antibiótico. Teve quedas de saturação graves, chegou a ficar roxinha. Precisou colocar um cateter com O2 preso ao nariz. Senti um aperto tão grande no coração. Pedi a Deus que nos desse a alegria de tê-la mais tempo conosco. Mais colos, mais banhos, mais trocas de fraldas. Mais dias no hospital para vê-la. Que ela ficasse boa, tirasse a sonda, tirasse todas aquelas coisas presas ao seu corpo, que fosse livre. Por mais algum tempo, que só Deus saberia o quanto. Hoje quando a vi gordinha e tranquila, concluí que Ele está ouvindo minha oração.
(fevereiro de 2010)
Há apenas 3 dias ela estava mal, vomitando com frequência e com inínio de infecção. Foi preciso passar um catéter pela veia até o coração para receber antibiótico. Teve quedas de saturação graves, chegou a ficar roxinha. Precisou colocar um cateter com O2 preso ao nariz. Senti um aperto tão grande no coração. Pedi a Deus que nos desse a alegria de tê-la mais tempo conosco. Mais colos, mais banhos, mais trocas de fraldas. Mais dias no hospital para vê-la. Que ela ficasse boa, tirasse a sonda, tirasse todas aquelas coisas presas ao seu corpo, que fosse livre. Por mais algum tempo, que só Deus saberia o quanto. Hoje quando a vi gordinha e tranquila, concluí que Ele está ouvindo minha oração.
(fevereiro de 2010)
Chorar, lembrar, escrever
Minha força escorreu como água entre os dedos; o meu corpo está todo desconjuntado. O meu coração se derreteu como um pedaço de cera! Perdi a coragem de lutar! As minhas forças sumiram, secaram como um pedaço de barro ao sol. A minha sede é tanta que a língua fica presa no céu da boca. Assim, Tu me colocaste deitado no pó da morte. Salmo 22:14-15
Louvem ao Senhor, todos vocês que adoram a Ele! Todos vocês, israelitas, deem glória a Ele! Obedeçam a respeitem a Deus, todos vocês, povo de Israel! Pois Ele não me desprezou nem me abandonou na hora da aflição, não virou as costas, mas ouviu e atendeu meus pedidos de socorro! Salmo 22:23-24
Estes são os que vieram da grande tribulação e lavaram as suas vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro. Nunca mais terão fome, nunca mais terão sede. Não os afligirá o sol, nem qualquer calor abrasador, pois o Cordeiro que está no centro do trono será o seu Pastor; ele os guiará às fontes de água viva, e Deus enxugará dos seus olhos toda a lágrima. Apocalipse 7:14c; 16-17
Bem-aventurados os que choram, pois serão consolados. Mateus 5:4
Nesta madrugada do dia 16 para 17 de agosto não pude dormir. Tinha a mente cheia de ideias e pensamentos, que aos poucos foram dando lugar às lembranças e à saudade. Sentia vivo em meu coração tudo que ocorrera exatamente um mês atrás. Era cerca de vinte para as duas da manhã quando pela última vez eu havia ido vê-la dormir. E a partir daquele momento tudo aconteceu. O inexplicável, o insondável e incompreensível ocorreu. A carruagem de fogo de Deus parou em nossa casa e minha menina iniciou sua viagem de partida para os céus.
A partir desse horário as lágrimas chegaram. Na verdade a grande represa se rompeu e as lágrimas jorraram livres, como a enxurrada que chega violenta arrastando tudo que tem pela frente. As lágrimas dessa noite se juntaram àquelas lágrimas que transbordaram naquela primeira tarde em que soube do seu diagnóstico, enquanto orávamos todos abraçados de pé na sala de estar de nossos amigos. Enquanto eu ouvia as orações, as lágrimas brotavam numerosas e caíam pesadas do alto da minha face. Como aqueles pingos de chuva que antecedem o temporal, que caem volumosos e grossos, assim meu choro despencava e empoçava o chão da sala. Então veio a tempestade. Como eu já amava desesperadamente aquele pequenino bebê, como doía saber que meu bebê morreria. Por favor, Pai, faz um milagre. Como dói, meu Deus, como dói saber que um filho vai morrer. Então é isso que o Senhor sente? É essa dor que dilacera o peito e rasga o coração?
E aquelas lágrimas se juntaram às lágrimas que vieram naquela noite após o seu nascimento, quando eu acordei e comecei a chorar no escuro do quarto da maternidade, e soluçava sozinha no silêncio pensando em como estaria a minha bebezinha recém-nascida na UTI. Enquanto eu pedia a Deus que olhasse por ela, que cuidasse dela, que fizesse o melhor por ela. Como eu a amava e queria tê-la sempre pertinho de mim.
E a estas lágrimas também se uniram aquelas que eu chorei sozinha no banheiro do hospital quando soube de uma hora para outra que ela seria transferida para a unidade pediátrica, em outro bairro, ainda naquela noite, sem que ninguém tivesse sequer nos avisado que sua transferência havia sido solicitada. Eu chorava porque estava cansada de vê-la sofrer com injeções, porque estava cansada e com medo e me sentia sozinha e sem apoio. Parecia que ninguém poderia entender o que eu estava vivendo e sentindo. Porque não sabia como seria dali para frente e sentia que estávamos sendo mandadas embora do hospital. Tanta luta e agora iríamos para um lugar desconhecido e distante. Será que algum dia eu a levaria para casa comigo? E eu chorei e solucei e gritei sentada lá dentro do banheiro vazio clamando a Deus que fizesse algo por nós, que eu nem sabia mais o que, mas que olhasse para nós e para nossa filha que estava vivendo há quase cinco meses dentro de um hospital.
E estas lágrimas também se juntaram àquelas que eu chorei quando já estava com ela em casa e não sabia como fazer para lhe oferecer tudo que ela necessitava, como levá-la às terapias e aos médicos, como aprender a dirigir ou conseguir ajuda. Eu me sentia sozinha sem saber onde conseguir ajuda concreta, alguém que estivesse disposto a nos apoiar e se entregar pra valer junto conosco em buscar as soluções que ela precisava. E eu chorava pedindo que Deus nos ajudasse e nos mostrasse o que fazer pelo seu bem. Como eu a amava e queria que ela ficasse conosco e bem, e tinha medo de como seria cuidar dela, ajudar no seu desenvolvimento, enfrentar o preconceito das pessoas e de muitos profissionais.
Porém Deus enxugou tantas vezes as minhas lágrimas, lavou meu rosto, e me ergueu, me disse que eu conseguiria e me fez sorrir de novo. Nos deu inúmeros momentos de riso, de paz, de alegria, de dança e de música. As lágrimas ficaram prá trás. E como nós rimos e dançamos!
Mas às quinze para as seis da manhã eu ouvi um outro choro, e já não era o meu. Era o choro da minha menina, que eu tanto amava, que eu queria guardar para sempre em meu peito, minha pequena estava sofrendo, meu Deus, meu Deus, bebê, não chore, mamãe está aqui contigo, vamos te levar para o hospital. Não chore meu bem, sua dor já vai passar, já estamos chegando, Senhor, cuida dela, em nome de Jesus. Descansa meu amor, mamãe está aqui com você, tudo vai melhorar. Deus é contigo. E ela chorava e chorava um gemido doído, mas não reagia às picadas, a tantas picadas que lhe deram tentando achar uma veia, ela nem sentia nem reagia a elas. Nem mesmo ao acesso intra-ósseo que lhe fizeram, meu Deus, parece que estão a parafusar seu osso, mas ela não reagiu a essa dor. Será que o seu choro não era somente físico, mas também o choro da despedida? Será que ela já estava lá, na carruagem de fogo de Deus, acenando da janela para mamãe e papai, dizendo adeus? E chorando para dizer, não sei se fico ou se vou, não sei se é melhor estar com vocês ou ir para Jesus.
Então parei de ouvir seu choro, mas ao seu choro se seguiu novamente o meu, de algumas horas depois, naquela noite em que soubemos que a hora havia chegado e que ela estava partindo. Que os rins haviam parado de funcionar, que a pressão já não media e ela não estava mais lutando ou reagindo para responder às medicações. Minha filha estava morrendo e não havia mais nada que pudéssemos fazer a não ser entregá-la nos braços bondosos deste Deus que a criou.
E essa grande enxurrada de lágrimas foi crescendo e crescendo, e me levando junto sem que eu pudesse a nada me agarrar para parar, e com tamanha força e volume que as lágrimas chegaram ao céu, abriram as suas portas antigas e me lançaram na presença de Deus, ante seu trono. Esse Deus que a criou, que a amou, que foi misericordioso e a deixou conosco por nove meses e dois anos e meio, que a protegeu e sustentou durante todo esse tempo, e que finalmente recebeu sua alma em seus braços. Todas essas lágrimas, toda a tristeza, todo o desespero e toda a luta não foram senão um caminho que Jesus criou para me levar até ele, porque sabia que eu, com minhas próprias pernas, jamais conseguiria chegar lá. E na sua presença foi tão bom chorar, e chorar, e chorar mais e continuar chorando até as lágrimas secarem, a cabeça doer, os olhos incharem e o coração ficar mais leve.
Minha bebezinha, minha pequenina, como eu te amei, como eu te amei desesperadamente, como eu guardei você bem pertinho do meu peito e te protegi e te fiz se sentir amada e segura por tantos e tantos momentos infinitos. Até a véspera do seu nascimento para a eternidade eu acolhi você em meu peito, e te envolvi em meus braços, acariciei seus cabelos e te agradeci por ter ficado com a mamãe por todo esse tempo. Como eu te amei. Minhas lágrimas são porque eu te amei desesperadamente e sempre quis te ver bem. Agora a luta acabou, Deus te recolheu, te levou pra junto do seu peito. Não há lugar melhor para uma princesa estar, minha querida. Não há lugar melhor do que a nossa verdadeira casa.
Agora sou uma árvore podada que sempre terá a falta do seu braço mais florido, que sempre terá uma parte de si ausente deste mundo. Como eu te amei, amei, amei... Ainda amo, mas agora amo a bebê que viveu neste mundo e que agora partiu, amo sua presença ausente, sua falta sentida. Amo a promessa do reencontro e da ressurreição, sim, bebê, o seu nome diz tudo, Cristo venceu a morte! Você é a Vitória de Cristo! Deus te enviou para me levar até Ele e Deus te levou para me levar até Ele também. Uma vez eu orei para que Ele me levasse até Ele, não foi? Quem pode sondar os seus caminhos? Como agradeço a Deus por você ter existido em minha vida, por ter mudado a minha existência e porque agora a sua falta vai me levar sempre pra presença de Deus até o momento em que eu puder te abraçar novamente na presença desse mesmo Deus que te criou, que te entregou em meus braços e que dos meus braços te levou.
quarta-feira, 15 de agosto de 2012
Literatura pela vida
Olá amigos, estou divulgando abaixo o trabalho que conheci recentemente, do escritor Maxwell Santos. Achei muito boa a iniciativa de tratar a questão do aborto e da anencefalia em um livro voltado para o público juvenil, Uma excelente oportunidade de leitura para os jovens, para diálogos entre pais e filhos, e também para debates nas escolas sobre os desafios e o respeito à vida.
Sexo e gravidez na adolescência. Aborto e anencefalia. Religião, bulling. Vida e Morte. Maternidade e amor. Sim, este é um livro juvenil que trata de questões sérias e reais com as quais muitos adolescentes se confrontam e se questionam. Num mundo que frequentemente traz respostas desencontradas, sem sentido e sem esperança, exemplos que inspirem, palavras que toquem na alma e no coração são raridade. E é isso que o jornalista capixaba Maxwell dos Santos traz em seu e-book As 24 horas de Anna Beatriz.
Anna Júlia é uma adolescente sonhadora de dezesseis anos que engravida do namorado Marco Antônio, de quinze. Em meio aos muitos desafios e ansiedades que chegam junto com a decisão de assumir uma gestação na adolescência, os dois ainda se confrontam com um dilema maior e mais doloroso, quando descobrem que o pequenino bebê que esperam tem anencefalia e morrerá logo após o nascimento. A partir daí o jovem casal percebe que precisará viver sua própria história, assumindo as consequências de suas ações e tomando suas decisões entre preconceito, esperança, lágrimas, amor e aprendizado.
O livro já pode ser baixado gratuitamente no site Issuu (clique aqui), Além disso, dia 29 de agosto às 19h terá coquetel de pré-lançamento na cidade de Vitória, no Ponto de Cultura – Varal Agência de Comunicação (R. Daniel Abreu Machado, 383, Itararé, Vitória/ES). Na ocasião, o publico poderá levar mídias de armazenamento como book reader, smartphones, tablets, pen drive, entre outros, para obter a obra.
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