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Mas eu sou como uma oliveira que floresce na casa de Deus; confio no amor de
Deus para todo o sempre. Salmo 52:8

sábado, 29 de dezembro de 2012

Escolhi agradecer...



Que teremos que morrer um dia, é tão certo como não se pode recolher a água que se espalhou pela terra. Mas Deus não tira a vida; pelo contrário, cria meios para que o banido não permaneça afastado dele. 2 Samuel 14:14



"A vida é uma realização; e o morrer, o final dessa realização. No turbilhão em que vivemos, não conseguimos, muitas vezes, encarar a vida como uma realização, muito menos a morte. Mas é isso que ambas são', decreta Madre Tereza de Calcutá."



"Há somente duas maneiras de lidar com a morte: não encarar o fato de que somos finitos ou outorgar-lhe um significado. Tanto a vida como a morte pedem por uma atitude pessoal que lhes dê um sentido. O tempo de vida, o passado, o presente e o futuro adquirem ritmo, orientação e valor diferenciado conforme as atitudes que tomamos e as escolhas que fazemos. Não morremos de uma vez para sempre, cada instante nos faz viver e morrer. (...) 

'O sentido que damos à morte é o sentido que damos à vida. E o sentido que damos à vida é o sentido que damos à morte', escreve Leonardo Boff em Ética da vida. O nosso olhar para a morte depende do olhar que temos para com a vida." Vera Cristina Weissheimer


Vitória recém-nascida - janeiro de 2010

Então ele disse: "Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu Reino". Jesus lhe respondeu: "Eu lhe garanto: Hoje você estará comigo no paraíso". Lucas 23:42-43





aniversário de 1 ano - janeiro de 2011


...com toda a determinação de sempre, também agora Cristo será engrandecido em meu corpo, quer pela vida quer pela morte; porque para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro. (...) desejo partir e estar com Cristo, o que é muito melhor. apóstolo Paulo, em Filipenses 1:20-21; 23b


Vitória em dezembro de 2011






Tive o imenso privilégio de passar os últimos três anos com minha princesinha Vitória durante o Natal e o final de ano.

9º mês de gestação da Vitória - dezembro de 2009
Primeiro ela estava na minha barriga, pequenina, mas já serelepe e cheia de vida. Ela me trazia uma força que me encorajava diante ao nosso futuro incerto. Talvez no próximo mês Deus a levasse assim que nascesse em janeiro. Mas o amor tão profundo que havia surgido entre nós nos tornava mais fortes que a dor e que as incertezas. A nossa união vinha de Deus e a presença de Deus fazia as circunstâncias dessa vida se tornarem pequenas... entendi melhor porque Davi dizia que Deus era a sua torre alta nos momentos de tribulação. Quando estamos num lugar alto, a visão de algumas coisas que antes nos assustavam mudam de proporção.

A certeza da eternidade oferecida gratuitamente em Cristo se tornara algo real e maravilhoso quando víamos a morte diante de nós. Tudo que eu havia estudado e crido na sua Palavra, estava prestes a se tornar real.  Deus usou a minha Vitória de Cristo para me aproximar dele de uma forma nova, pura e simples. A minha bebê me ajudou a descobrir um coração de criança, simples e cheio de fé.

Parece que o ano realmente começou quando ela nasceu, dia 13/01/2010. E ela chegou tão suavemente, tão doce e amável. Pensamos que sua estadia conosco seria breve, tamanha era  sua fragilidade, mas não. Ela ficou conosco durante todo aquele ano cheio de desafios.

Ela nasceu com a cabecinha toda aberta, e minha primeira reação ao vê-la foi de que seria impossível viver naquela condição. Além de todas as previsões médicas e alguns poucos relatos de que tinha conhecimento, sua expectativa era de algumas horas de vida a poucos dias. Mas Deus e ela me mostraram que aquilo que parecia impossível aos olhos humanos era possível sim para Ele. Que nem sempre as previsões científicas se cumprem. Cada experiência é única. Não sabemos porque tivemos esse privilégio e essa missão (e realmente não necessito de explicações). Mas passamos cinco meses na UTI vendo milagres diários. Ela fez uma cirurgia que na primeira semana de vida um neurocirurgião dissera que era uma possibilidade absurda e nem mesmo registrou sua avaliação no prontuário dela - tamanho o desinteresse pelo seu caso.

No entanto, o absurdo aconteceu e ela enfrentou corajosa cada desafio. A criança que todos diziam que não sentia nada e era só “reflexos” aprendeu a mamar, nunca aspirou leite, o refluxo que diziam que era de origem neurológica e sempre existiria passou assim que ela chegou em casa.

andando de balanço - dez. 2010

Ah! Receber aquela bebezinha pequenina e doce em meus braços e trazê-la para casa foi um presente inigualável e maravilhoso. Tudo foi tão surpreendente e imprevisível que os médicos já não ousavam fazer previsões, muito menos previsões pessimistas. Ouvimos possibilidades como fazer uma nova cirurgia entre 5 e 8 de idade, se fosse necessário. Ela parecia tão decidida a viver e estava tão impressionantemente estável que tínhamos que nos preparar para tudo, para amá-la e acolhê-la durante todo o tempo que ela ficasse conosco.


Vitória na praia - dez. 2010


Vitória na praia - dez. 2010
O ano passou tranquilo e feliz, passamos um natal especial com aquela bebê que crescia linda, que comia papinhas, chorava, tentava engatinhar se arrastando, adorava dormir recebendo carinho e abraços. Também enfrentamos desafios, preconceitos, dificuldades, mas tudo se tornava pequeno perto da sua presença especial. Vieram os dentinhos, que deram bastante trabalho, ela cresceu muito, estava uma criança grande, forte, linda.

Mas no final de 2011 ela adoeceu inesperadamente e nosso coração ficou despedaçado ao ver a nossa menina sofrer sem saber como ajudá-la, como protegê-la e depois de tantos meses de felicidade ressurgiu o medo de perdê-la. De um dia para o outro ela acordou reclamando muito e ficando pálida e abatida, corremos para o hospital e à noite ela entrou em choque e foi para a UTI em estado gravíssimo. Todos achavam que ela não sobreviveria ou ficaria com sérias sequelas. Mas Deus deixou-a conosco contra todas as expectativas, mais uma vez. Fez com que ela se recuperasse e a devolveu aos meus braços. Ela foi recebida com muita alegria, muito carinho, beijos de gratidão e alívio.

Tivemos pouco tempo para respirar aliviados, e 2012 chegou com um novo susto, quando na véspera de Reveillon ela começou a ficar estranhamente inquieta. Dia 1º de janeiro estávamos no hospital. Ela parecia se sentir mal, com espasmos que ninguém sabia dizer de onde e por que vinham. Diagnosticaram como crises convulsivas e a possibilidade de uma nova infecção foi descartada, com base nos exames. Para no dia seguinte ela entrar em choque séptico inesperadamente, debaixo dos olhos dos médicos da UTI. Uma evolução rápida, e inesperada que pegou a todos de surpresa. Vivemos os dias mais difíceis de nossas vidas.

Dezembro de 2011 - Taquara - RS
Mas ela se recuperou mais uma vez, respondeu rapidamente a todas as medicações que recebeu e voltou para casa em apenas 10 dias – mais uma vez surpreendendo a todos no hospital em ver uma menina forte e cheia de vida e de reações. Porém doeu demais vê-la sofrer e passar por procedimentos invasivos e dolorosos, como intubação, passagem de cateter, sedação, sondas... tudo aquilo foi retirado rapidamente, mas guardei em meu coração o sentimento de que ela não merecia e não precisava passar por tudo aquilo mais uma vez.

Porém a preocupação e o medo passaram a rondar nossos corações com a possibilidade de perdê-la, de vê-la sofrer, de não conseguirmos cuidar dela como ela necessitava. Vieram as infecções urinárias recorrentes e ninguém sabia nos dizer com certeza o que fazer para evitá-las. Foram momentos difíceis, confusos, apreensivos... Não havia mais certezas e a única coisa que me parecia certa era que tinha que amá-la de todo o coração em meio às adversidades, e que devia entregar a sua vida nas mãos de Deus o tempo todo.

Nessas horas tudo que podemos fazer é amar e lutar. Não há o que questionar, não há tempo para lamentar porque estamos ocupados demais amando e lutando junto com uma pequena guerreira. Corremos atrás de tudo que era possível para tratar infecções urinárias, diferentes medicamentos, alimentação, sucos naturais, mudanças na higiene. Mas tudo foi ineficaz. A levamos muitas vezes ao pronto-socorro por qualquer comportamento estranho ou irritação, por qualquer suspeita de infecção, com o temor de que uma nova sepse acontecesse. Passamos a fazer exames todas as semanas, muitos telefonemas para a pediatra dela para passar os resultados, idas até o seu consultório pegar receitas de antibiótico. Mas ela sempre estava bem, apesar de tudo, e as infecções iam embora rapidamente assim como chegavam.

maio de 2012


Finalmente em junho ela foi internada para tratar uma infecção que a deixou realmente prostrada, e um uropediatra prescreveu o uso de sondas de alívio para esvaziar a bexiga. Ficamos muito aliviados em encontrar uma solução que ajudaria a prevenir eficazmente as infecções.

maio de 2012

Nós pedimos incessantemente a Deus que fizesse o melhor para ela, desde o início. Eu sabia que jamais teria a capacidade de cuidar dela sem a direção e as forças de Deus. Quando muitos dizem que nem todos têm a estrutura emocional e para cuidar de uma criança especial, realmente acho que é verdade. Vou mais além. Ninguém tem essa estrutura emocional e condições de encarar os desafios de amar, criar e educar um filho, com ou sem necessidades especiais... sem que Deus dê força e direção. E Ele a dá, eu creio, mesmo a quem não crê nele, mesmo a quem não o busca de uma maneira convencional, creio que a vida e a força vêm do seu amor incondicional por nós. Eu jamais teria condição. Se pensasse em ter uma criança especial, ficaria pasma, pensaria, isso não é para mim, não sei o que eu faria. Mas é fácil dizer isso quando não estamos com o nosso filho no ventre ou nos braços. E as forças surgem sabe-se lá de onde, quando deixamos de olhar para nós e olhamos para aquele pequenino bebê que precisa de nós.

Sempre deixei a Vitória em suas mãos e Ele sempre me ajudou a cuidar dela. E chegou o dia em que Ele veio buscá-la e pediu que entendêssemos e confiássemos que seria o melhor para ela. Foi o que eu senti em meu coração. Nós confiamos. Com o coração partido e em lágrimas, vivemos o momento que pensávamos que jamais chegaria, quando nós a entregamos em suas mãos e a deixamos ir junto com Jesus. Simplesmente aceitamos e a deixamos partir. Confiamos que Deus estava ali respondendo nossas orações pelo seu bem, pela sua cura, pela sua felicidade. Ele a deixou ser feliz conosco por um tempo maravilhoso, deixou-nos conhecê-la, amá-la, zelar por sua vida, mas chegou a hora de partir. Ou de chegar...

Quando encerramos o sepultamento de seu corpinho na terra, quando dissemos o último adeus e cobrimos seu túmulo com flores, eu senti muita paz. Senti que finalmente tinha cumprido a minha missão, tudo que me fora proposto. Com a graça de Deus.

Mesmo com limitações e desafios ela foi uma criança feliz e amada. Nos meses mais difíceis, quando ela começou a adoecer, ela nos presenteou com seus mais belos sorrisos, com seus olhares inexplicáveis de uma criança que, aparentemente, não tinha a visão, mas parecia estar o tempo todo enxergando com os olhos da sua alma... Uma criança que não tinha a comunicação verbal, mas que nos falava com os seus olhos, com seu rostinho perfeito e rico em expressões, com seu corpinho roliço e delicado cheio de gestos e palavras não pronunciadas... Uma criança que nos consolava e fortalecia sempre que a amávamos, que nos encorajava toda a vez que segurávamos sua mãozinha delicada e macia. Que nos abraçava a todo o momento com seu coração pequenino e puro.  Quantos abraços recebemos!



Este ano, dezembro de 2012, ela já não está mais aqui com a gente. A sua ausência dói. Ela está sempre em nossos corações, em nossos sonhos - e nesse sentido, um filho nunca morre, porque jamais morrerá nos pensamentos, emoções e lembranças de seus pais. Mas ela não está aqui, não como ela esteve nos últimos três anos.

Porém quando ela chegou em nossas vidas, nos contou um segredo. Quando estávamos apavorados e aflitos com o diagnóstico de acrania e com as palavras incompatível com a vida, e os conselhos alarmantes de alguns médicos, eu também quis ouvir o que ela tinha a me dizer, com seu coração. Aprendemos com ela o poder de agradecer. Agradecíamos diariamente pela sua vida, pelo privilégio de sermos seus pais, sem pensar que poderíamos “perdê-la” um dia, sem pensar que poderíamos sofrer. Mas agradecemos por todas as coisas boas que estávamos aprendendo e vivendo com ela. Agradecemos tanto, e ao aceitá-la e recebê-la com muito amor e gratidão, ela se tornou nossa para sempre.

novembro de 2012 - Canela, RS

Por isso eu decidi continuar a agradecer. Agradecer pelos 3 anos lindos e inesquecíveis em que ela esteve aqui comigo. Por todos os momentos felizes e belos que vivemos. Agradecer pelo privilégio de ela ter nascido, de ela existir e ser minha filha. Agradeço a Deus pela história que vivemos. Nem tudo foi bom. Em alguns momentos ela sofreu, e nós sofremos juntos. Nenhum pai quer ver seu filho sofrer. Mas receio que querer proteger seu filho de todo o sofrimento possível pode ter efeitos desastrosos. É só olhar para o mundo e ver quantas pessoas são incapazes de lidar com frustrações e perdas, incapazes de perdoar os outros e a si mesmas. Aprendemos muito com estes momentos de sofrimento. Amadurecemos muito. Nos tornamos mais solidários e compassivos diante do sofrimento dos outros. Aprendi muito mais a importância de não julgar, de respeitar, de ouvir. De tentar me colocar no lugar do outro. De amar. Não somos perfeitos e estamos a anos luz de distância de o sermos. Mas estranhamente, eu me sinto mais completa e feliz, por ter vivido tudo o que vivi.

Não vou lamentar o que não mais viveremos aqui com ela, porque há tanto a agradecer pelo que foi vivido. E como ela sempre seguiu em frente contra todas as adversidades, eu quero seguir em frente como ela. Ela partiu decidida e em paz, deu-nos o tempo de entender e nos despedir, e nós a deixamos ir. Porque a amamos de todo o nosso coração, nós pudemos deixá-la partir. E agora podemos seguir em frente, também em paz.

Ela não está aqui vivendo momentos especiais com a gente, as festas, os passeios, as viagens... Mas eu carrego em meu coração a fé de que ela está vivendo coisas maravilhosas com Jesus. Que no momento em que seu coraçãozinho parou aqui nesta terra, Jesus a estava recebendo nos céus. Que ela recebeu um forte e amoroso abraço e um grande sorriso e ouviu Jesus lhe dizer: Bem-vinda, minha querida, como eu esperei pela sua chegada! Como eu te amo! Eu dei a minha própria vida para você estar aqui. Como valeu a pena!






Desejo a todos os queridos amigos e leitores do nosso Blog um feliz 2013, cheio de alegria, realizações, aprendizado, saúde e paz!
Que cada um encontre seu caminho de felicidade e possa andar perto de Deus.
Sou imensamente grata por cada amizade, cada comentário, cada manifestação de carinho e desejo que Deus abençoe a vida de todos os que nos lêem!

Com muito carinho,
Joana e Marcelo
Em amorosa memória da princesinha Vitória de Cristo

nós, novembro de 2012 - Canela, RS (e nossa menininha em nossos corações)



* Citações bíblicas - tradução NVI : para reler os versículos de onde foram extraidos, compreendendo melhor todo o contexto, consulte a Bíblia online

Weissheimer, Vera Cristina. "Eu vi as tuas lágrimas": amparo e consolo no sofrimento, p. 102. Ed. Sinodal, 2009.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Como foi nossa ida ao Hemocentro

No último sábado, (01/12), conforme havia colocado aqui no blog, fomos ao Hemocentro da Santa Casa de São Paulo. Lá é o único Hemocentro na cidade de São Paulo onde é possível se cadastrar como doador de medula óssea. (para doar sangue há vários endereços). Deu tudo certo e nos cadastramos como doadores. Eu também pude doar sangue - o Marcelo ainda não pôde devido a um exame que fez recentemente.

Infelizmente nenhum amigo virtual do blog ou Facebook apareceu por lá. Mas a divulgação foi feita, espero que possamos ter encorajado amigos e leitores que ainda não são cadastrados a se informarem sobre essa possibilidade e se organizarem para doar.

Quem tiver interesse, fiz um pequeno relato de como foi, pra variar bem detalhado (risos!).

Chegamos umas 10h15, já havia bastante gente e fiquei feliz em ver muitos grupos de voluntários. Aguardamos uns 15 minutos até sermos chamados pela senha, depois levou mais uma meia hora entre fazer um teste de anemia e a entrevista, e mais uns 15 minutos até sermos chamados para a coleta. Quando já estávamos terminando, um casal de queridos amigos, André e Rita Caputo, chegou para também se cadastrar e doar sangue e foi muito legal bater papo enquanto aguardávamos a vez deles. Eles chegaram mais próximo ao início da tarde e enfrentaram uma fila bem maior, então imagino que quanto mais cedo você chegar, mais rápido será o processo todo (pelo menos aos sábados).

Eles servem um lanchinho bem básico após a doação e há um filtro com água para beber à vontade. Quem quiser se organizar, recomendo levar mais alguma coisinha para comer na volta para casa e uma garrafinha para abastecer com água. Você também deve esperar pelo menos uma hora antes de dirigir para ir embora.

Minha pressão baixa um pouco quando estou doando sangue (isso já aconteceu em outra vez que doei), mas realmente é algo passageiro e é bom evitar ficar de pé ou fazer muito esforço no restante do dia. Ao meu lado havia uma senhora que é doadora de sangue desde 1978 - uau! A enfermeira que nos atendeu foi super simpática. Comentamos sobre a nossa amada Vitória e como ela é nossa grande motivação para estarmos ali. O Marcelo pra variar sempre mostra as lindas fotos que tem dela no celular.

Ficamos sabendo também que há uma grande necessidade de doadores de plaquetas - esse componente do sangue dura apenas quatro dias após a doação, então geralmente eles entram em contato com doadores voluntários quando há necessidade para os pacientes. Muitos pacientes da quimioterapia infantil que fica ali ao lado do Hemocentro necessitam de doação de sangue e de plaquetas. Sem falar no transplante de medula - a Santa Casa é referência nesse tipo de tratamento. Para ser doador de plaquetas, a pessoa precisa ter uma veia bem calibrosa em cada um dos braços (não é meu caso), e o processo da doação leva cerca de uma hora a uma hora e meia. É um grande gesto de amor e solidariedade!

Foi especial pensar em quantas pessoas que doaram sangue desta mesma forma, e que ajudaram a Vitória quando ela esteve internada. Isso me fez ficar ainda mais grata. Não é algo simples. Não é como ir à farmácia e comprar um remédio. Você precisa se deslocar até um grande hospital. Você precisa pegar uma fila, passar por uma entrevista e falar sobre sua vida. Depois você leva uma picada chata com uma agulha e dói (um pouco mais do que a agulha para coletar sangue em laboratórios). Você fica algum tempo lá sentado enquanto seu sangue abastece uma bolsa de 450 ml, abrindo e fechando a mão. Sua pressão pode cair um pouco depois de doar o sangue e precisa esperar mais um pouco antes de ir embora enquanto toma bastante água para recuperar o volume de líquido perdido. O braço também fica dolorido por um ou dois dias. É realmente um gesto de amor muito precioso e agradeço de todo o coração a todos que são doadores de sangue e que doaram sangue em nome da nossa amada Vitória. Seu gesto fez uma imensa diferença na vida dela, muito obrigada!

Meu intuito não é desencorajar ninguém com este relato franco - sei que algumas pessoas morrem de medo e têm pavor de sangue e de agulha, e ninguém deve se sentir forçado a fazer nada. Mas espero relatar aqui que é um gesto de solidariedade e de sacrifício (pequeno) para ajudar uma outra pessoa. Às vezes é difícil parar e encontrar tempo para ir até o centro da cidade e vivemos sempre tão acelerados e atribulados. Eu poderia ter feito isso muito antes e não fiz.

Também poderia ter me cadastrado como doadora de medula óssea há uns 10 anos e não fiz - eu nem sabia que isso era possível, e somente há pouco tempo comecei a ver campanhas sobre doação de medula nas redes sociais. Agora que nos cadastramos, penso: por que não fizemos isso antes?! Por isso acho que a divulgação e o incentivo sobre doação ainda precisam ser mais intensos.


  • Outras informações importantes


  • No site da Fundação Pró-Sangue, atualmente os estoques de bolsas de sangue dos tipos O+, O- e B- estão muito baixos, e o de A- está baixo. Então fica mais um convite para quem tem estes tipos sanguíneos, que pode ser doador e o deseja, para doar!
  • Quem deseja entender melhor como é a doação de medula óssea e como se cadastrar, pode visitar Pesquisa sobre Doação de Medula Óssea, com várias informações e link para uma pesquisa onde você também pode fazer um pré-cadastro ao final, e Leucemia Zero no Brasil (ambas no Facebook), onde você pode ver quantas pessoas ainda estão a procura de um doador compatível, lutando pela vida.
  • Há também  grande necessidade de doadores de plaquetas.  Para isso, além de a pessoa atender todos os requisitos para a doação de sangue, ainda precisa ter uma veia bem calibrosa em cada um dos braços e disponibilidade de tempo. O processo da doação leva cerca de uma hora a uma hora e meia (é feito com agendamento). Na ocasião da doação de sangue ou cadastro de doação de medula você pode informar que gostaria de tentar ser doador de plaquetas.
  • Além dos requisitos normalmente divulgados para ser doador de sangue, existem outros menos divulgados e alguns critérios mudam esporadicamente. Por exemplo, quem fez exames como endoscopia e colonoscopia precisa esperar 6 meses para doar sangue; quem está em tratamento dentário não pode doar e tem que esperar uma semana após o término. Quem fez pequenas cirurgias também tem que esperar entre 6 meses a um ano. Na dúvida, é bom ligar para se informar. Mas para se cadastrar como doador de medula estes não são impeditivos. (Ver os requisitos na postagem Doação de Sangue e Medula Óssea)

Um lindo tesouro no céu

Mas acumulem para vocês tesouros no céu, onde a traça e a ferrugem não destroem, e onde os ladrões não arrombam nem furtam. Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração. Mateus 6:20-21



Uns dias atrás saí sozinha de carro para ir ao dentista. Estava um dia lindo de sol, e fui ouvindo uns louvores que ouvíamos ainda na gestação da Vitória. Foi estranho sentir a falta dela de uma forma tão intensa quando olhei para o banco de trás e vi o cantinho onde ela ficava em sua cadeirinha quando íamos à fisioterapia. Tudo vazio, em silêncio.


O espelhinho que eu deixava sempre aberto para olhar para ela, agora fica abaixado. Eu me sentia tão orgulhosa quando saía com ela! Ela ficava tão linda sentadinha, e eu via seu rostinho pelo espelho, uma mocinha. Minha princesa. À medida que ela foi crescendo, ela inventou de não querer mais ir na cadeirinha, e eu passava alguns apertos (risos). Às vezes eu conversava com ela, lhe explicava que era necessário ela ficar na cadeirinha, que era mais seguro, que eu estaria dirigindo e a tia Cida estaria com ela ali atrás. Algumas vezes ela realmente ficou mais calma e colaborou, especialmente no começo dessas conversas. Em outras não teve jeito, ela de fato não gostava e algo lhe incomodava em ficar presa com o cinto. Mesmo que eu fechasse o cinto da cadeirinha ou do carrinho bem devagarinho sem que ela percebesse, dali a pouco ela ia com as mãozinhas diretamente no cinto e ficava puxando, tentando tirar. E brava. Ela não gostava de nada lhe apertando (e eu também era assim quando criança, incrível, não?)




Enquanto eu dirigia ao som das canções, lembrava como aprendi a dirigir exclusivamente por causa dela. Eu tinha um verdadeiro pânico de dirigir, ficava nervosa, me atrapalhava, e mesmo tendo habilitação fazia de tudo para evitar pegar um carro e aprender pra valer. Mas por ela, valia a pena aprender o que fosse preciso, superar qualquer medo, pedir ajuda e treinar. Muitas vezes achei que não conseguiria, que era impossível superar essa dificuldade. Muitas vezes eu chorei e achei que estava tudo perdido. Que eu não era capaz de cuidar dela como ela precisava, e que era uma irresponsável em engravidar sem saber dirigir. Hoje eu rio dessas situações. Mas se ela estava ali comigo, tudo era possível e eu também podia me superar!

Aos trancos e barrancos aprendi - ainda tenho meus receios, não saio de casa sem ver todo o itinerário certinho no mapa, fico tensa se vou para lugares novos... mas acho que não estou tão mal assim.

Graças a minha gatinha. Ela se foi, mas quantas coisas boas ela me deixou! Isso certamente é algo pequeno, mas o que ressalto aqui são as coisas que ela mudou no meu coração. Há uma parte que dói e vai sentir saudades para sempre e nunca estará completa até reencontrá-la. Mas há outra parte que aprendeu com ela que é possível ser forte mesmo quando somos fracos. Que vale a pena seguir em frente e que nossa felicidade não depende de tudo ser perfeito. (Aliás, se esperamos por isso, como seremos infelizes!) Como eu mudei por causa dela, como valeu a pena lutar junto com ela e crescer com ela.

De vidros fechados e uma música que ajuda a elevar nosso coração a Deus (e saindo com bastante antecedência de casa!), também aprendi a não ficar tensa e irritada com o trânsito absurdo de São Paulo. Passei por muitos lugares por onde passava junto com ela, em nossas maratonas de médicos e terapias. E enquanto dirigia, ia cantando, adorando a Deus e lhe agradecendo. Reafirmando que sempre vou amá-lo e segui-lo. Meu coração se encheu de paz. E senti que Deus estava feliz por mim, como que me dizendo: "É tão bom te ver bem, sentir seu coração em paz".

Não é fácil seguir sem minha amada bebê junto comigo. Mas Deus nunca nos abandonou. Ele é o mesmo que sempre esteve ao nosso lado, e sempre estará. Isso me basta para continuar.






Às vezes me surpreendo com a forma como as pessoas falam tanto sobre termos mais um bebê, como se isso fosse uma solução mágica para preencher essa imensa saudade.

Nós sempre quisemos ter mais de um filho, antes mesmo da Vivi, e mesmo quando ela estava conosco, e ainda queremos, se Deus permitir, lhe dar um irmãozinho(a) ou mais de um. Mas tem sido muito especial me dar esse tempo necessário para chorar pela minha filha que partiu, para cuidar de mim mesma, cuidar do coração, das emoções, organizar a vida, e também descansar. E quando chegar o momento, quando Deus enviar um irmãozinho(a) para ela, poder me dedicar totalmente para mais esse presentinho de Deus, oferecendo a ele(a) o meu melhor. Como fizemos com nossa princesinha.

Às vezes acho que sinto um pouco de ciúmes por ela, com receio de que as pessoas a esqueçam, ou prefiram seu futuro irmãozinho(a), tamanha é a insistência. Já ouvi e li alguns comentários chatos, como "sua filha foi uma provação de Deus, mas o seu próximo bebê vai ser perfeito", "você pode ter outros filhos normais?", ou quando estou contando sobre como foi me despedir de minha filha "ah, mas você vai ter outro bebê, vai ser lindo!". E a pergunta que mais tenho ouvido recentemente é "vocês pretendem ter outro filho?". 

É claro que sim, por que não pretenderíamos? Mas, talvez somente outras mamães de anjos entendam isso, minha princesinha era perfeita, linda e normal. Mais do que as pessoas possam imaginar. Mais do que elas possam compreender.

Sou muito grata por todos os votos de termos mais filhos, por saúde para eles, por bênçãos e realizações na nossa vida em todos os sentidos. Sei que a maioria dos comentários vêm de corações muito sinceros e amorosos e isso é muito especial. É natural também a curiosidade das pessoas e é bom que sejam espontâneas e próximas. Mas às vezes (nem sempre), alguns comentários me incomodam um pouco. Fico pensando se as pessoas chegariam para uma mulher que acabou de perder o marido e lhe perguntariam: "você pretende casar de novo?" Ou quando ela estivesse chorando de saudade de seu companheiro que partiu há bem pouco tempo, alguém lhe dissesse: "Não chore, arranje outro marido!" Sei que a comparação não é perfeita, que filhos são diferentes de cônjuges, mas essa tendência que as pessoas têm de querer fugir da dor oferecendo uma substituição não faz muito sentido para mim. Tudo tem seu tempo e cada um tem seu tempo. E o amor por cada filho é único e insubstituível.



Muitas pessoas foram realmente tocadas com a vida da Vitória, e com toda a nossa história com ela, de amor, de fé e superação. É natural desejar todo o melhor para uma família que viveu tantos desafios e pôde enxergar amor, alegria e aprendizado em tudo isso. Eu já fiz isso muitas vezes, desejando muitas bênçãos, consolo e vitórias para pais que perderam um bebê.

Mas hoje, quando leio algum comentário de alguém dizendo que Deus vai nos recompensar por tudo o que vivemos (esse comentário também é frequente), paro e penso: Ele já nos recompensou! Não houve recompensa maior do que viver 9 meses com minha filha em meu ventre e mais 2 anos e meio junto com sua companhia, em poder amamentá-la, trazê-la para casa, deitar juntinho dela, em poder acalentá-la e vê-la se acalmar junto ao meu peito. Em podermos abraçá-la, o Marcelo e eu, e gritar: FAMÍÍÍLIA, e vê-la suspirar de alegria, toda dengosa. Em poder ter a certeza do quanto ela sentia, entendia e sabia que era amada. Em poder vê-la sorrir e andar de skate. Em aprender a enxergar além das aparências e imperfeições, percebendo o quanto fomos imensamente abençoados em tê-la como filha. E em poder entregá-la nos braços compassivos de Jesus, confiando que a partir daquele momento Ele cuidaria dela para mim.


A maior recompensa virá no dia em que eu puder reencontrá-la no céu e conversar com ela... e ouvir suas palavras e saber todos os detalhes especiais dessa história. Quantas vezes os anjos do céu observaram atentamente nossas brincadeiras e sorriram junto com ela? Quantas vezes Deus interviu no rumo da história por meio de todas as nossas orações? Quantas vezes Ele também chorou ao nos ver chorar, e mandou seu Espírito Consolador?

Deus enviou Jesus a este mundo para revelar o seu imenso amor por nós, e para morrer no lugar da minha princesinha, para lhe dar um novo corpo perfeito. Não existe recompensa maior!

No fundo, o que eu penso é que eu não perdi uma filha. Eu ganhei uma filha para a eternidade. Tenho um tesouro no céu.

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