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Mas eu sou como uma oliveira que floresce na casa de Deus; confio no amor de
Deus para todo o sempre. Salmo 52:8

terça-feira, 14 de maio de 2013

O luto leva tempo







por Max Lucado*
“Bem-aventurados os que choram, pois serão consolados”. Mateus 5:4
Tiago 4:14 diz, “Vocês são como a neblina que aparece por um pouco de tempo e depois se dissipa”.
Nós falamos de uma vida curta - mas comparada com a eternidade, quem tem uma vida longa? Mas no plano de Deus, toda vida é longa o suficiente e toda morte é oportuna. E mesmo que você e eu queiramos uma vida mais longa, Deus sabe o que é melhor.
Eclesiastes 7:3 diz, “A tristeza é melhor do que o riso, porque o rosto triste melhora o coração”.
Os egípcios se vestem de preto por seis meses. Os judeus ortodoxos oferecem orações por um pai falecido todos os dias durante onze meses. Alguns muçulmanos se vestem com trajes de luto por um ano. Eu sou o único que sente que apressamos as nossas dores?
Você sabia que 70% dos salmos são poemas de tristeza? Que o Antigo Testamento inclui um livro de lamentações?
O luto leva tempo. Dê a si mesmo um tempo.




Olá, pessoal! Compartilho com vocês hoje um breve texto do Max Lucado sobre o luto.

É interessante esse processo de luto, existem muitas fases, idas e vindas, momentos de fortalecimento e aceitação, e momentos de volta às lágrimas, e assim vai-se levando a vida. Acredito que outras mães que perderam seus filhos recentemente entendam. Datas como aniversário, dia das mães, etc. nos deixam mais sensibilizadas, e aos pais e outros familiares também.

Talvez o luto dure uma vida toda, pois sempre terá que se viver sem essa pessoa tão amada que partiu.  Cada um vive esse momento da sua forma, de acordo com as circunstâncias vividas, com a sua personalidade e com a sua fé ou posicionamento de vida. 

Muitas vezes as pessoas nem imaginam o quanto ainda dói, não compreendem, mas mesmo assim o luto precisa ser vivido e respeitado. Cada um tem seu tempo necessário para chorar, seus rituais para relembrar,  seus sentimentos para lidar, e não é de se surpreender se passados meses ou anos, ainda seja necessário chorar.

Dói o fato de, a cada nova etapa de nossas vidas que surge, termos que lidar com a realidade de que nossa filha não está mais conosco, não está mais convivendo e participando das mudanças, dos novos projetos, não da maneira como participava antes. Mas com certeza ela está em nosso coração, em nossa motivação e em nossas lembranças  - e por isso mesmo jamais se esquece também da sua ausência.

Às vezes um abraço carinhoso e ouvidos atenciosos são tudo o que se necessita. Às vezes um lenço para secar as lágrimas e outro para enxugar o nariz também ajudam. Às vezes é preciso falar, em outras não se quer falar, e assim leva-se a vida. Sim, é preciso reencontrar-se na vida, e isso às vezes leva tempo. É importante respeitar e amar quem precisa desse tempo. 

Concordo com o autor que nossa sociedade é bastante desconfortável e apressada em "resolver" e "superar" dores tão importantes e necessárias.

Por outro lado, estou também com muitas novidades para contar, novos projetos para dividir, mas hoje por enquanto vamos ficar por aqui e refletir sobre o luto.

Se alguém quiser comentar algo, perguntar  ou compartilhar, sinta-se à vontade.

Um forte abraço e fiquem com Deus!


*Fontes: texto extraído do site http://www.irmaos.com, que por sua vez informa a fonte do texto original em inglês: www.maxlucado.com

domingo, 12 de maio de 2013

Parabéns para mães muito especiais!





Envio um abraço carinhoso e apertado a todas as mamães, em especial a minha mãe que sempre se fez tão presente, que me apoiou e serviu tantas vezes quando nossa princesinha estava conosco. Que foi uma avó maravilhosa que se orgulha até hoje da netinha especial que tem. E que continua me apoiando e cuidando, ao ponto de me enviar essa semana uma caixa com vários presentes pelo dia das mães e cartõezinhos em nome da Vitória muito especiais. Muito obrigada, mãe!

Também envio o mesmo abraço carinhoso à minha sogra, que tanto me apoiou e se fez presente, e agradeço a ela igualmente pelo amor e orgulho com que recebeu a nossa amada Vitória coma sua neta, sendo uma avó maravilhosa e muito especial.

Muito obrigada. Amo vocês!!!













Feliz Dia das Mães!!!



Quando Jesus viu isso, ficou indignado e lhes disse: "Deixem vir a mim as crianças, não as impeçam; pois o Reino de Deus pertence aos que são semelhantes a elas. Digo-lhes a verdade: Quem não receber o Reino de Deus como uma criança, nunca entrará nele". Em seguida, tomou as crianças nos braços, impôs-lhes as mãos e as abençoou. Marcos 10:14-16


Ter uma criança em sua vida para amar, zelar e abençoar é um grande presente de Deus! Eu tive esse privilégio e sou imensamente grata por ter me tornado mãe de uma menininha tão especial, da nossa amada Vitória de Cristo.

camiseta que compramos para a Vitória quando ela tinha +- 1 ano e meio


Hoje acordei com um café da manhã, com essa camisetinha escrita Eu ❤ a mamãe, e um porta-retrato com a sua fotinho, com o papai representando a nossa princesinha para lembrar o Dia das Mães! Abrecei sua camiseta, cheirei (ainda tem o seu cheirinho!) e agradeci. Hoje ela não pode estar conosco para comemorar a grande alegria da sua vida, mas partiu sabendo que sua vida sempre será um maravilhoso presente durante todas as nossas vidas e que sempre a amaremos.

O presente que sua vida foi para nós ultrapassa os limites físicos, de tempo, de idade, e até da vida.

ultrassom da Vitória, 2 semanas antes do diagnóstico...
Ao mesmo tempo, ano passado lembro que foi uma grande alegria ter nossa amada filha conosco, poder sentir seu cheirinho, lhe beijar, abraçar, alimentar, proteger... Mas lembro também que ela não estava muito bem, sendo acometida com infecções, necessitando de internações e exames que até pouco tempo atrás não eram necessários. Meu coração de mãe sofria em saber que ela não estava bem em alguns momentos. E tudo que eu pedia a Deus é que fizesse o melhor para ela. Durante toda a sua vida, em meio aos desafios que enfrentou, sempre estivemos ao seu lado lutando pelo seu bem. Fomos agraciados com dias de muita felicidade e paz. Mas por quanto tempo seria o melhor para ela estar conosco, só Deus poderia saber.

Então hoje, ao mesmo tempo em que sinto profundamente falta da sua presença, choro e sinto muita saudade, também agradeço a Deus porque sei que Ele está cuidando dela para mim. Creio que ela ainda vive, está bem, não sente dor, e meu coração de mãe descansa por isso. Descansa em saber que essa separação é temporária, é necessária, que foi o melhor para ela... e que não será assim para sempre.


esse pingente minha mãe me deu de presente em novembro do ano passado... encontramos em uma loja e achamos muito especial

O versículo que citei no início desse post me inspirou hoje ao pensar em como as crianças são uma grande bênção. E claro, não é porque crescem que deixa de ser assim. Ter filhos é um milagre, um presente valioso, que vêm para aprender, serem educados e ensinados, mas também vêm para nos ensinar algo.
Que possamos aprender com o coração das crianças, com sua pureza e sinceridade, e que nunca esqueçamos de dizer a elas o quanto são especiais e valiosas simplesmente por existirem, de dizer a elas palavras de bênção, de coragem e alegria. Dizer a elas que podem superar todas as suas fraquezas e desafios, e que temos certeza que serão vitoriosas e felizes. Elas precisam muito disso! Elas precisam muito de uma mãe que lhes diga isso, e guardarão essas palavras para sempre em seus corações durante toda a vida.

Parabéns e muito obrigada a todas as mamães que leem o blog, que nos visitam, que nos seguem, muitíssimo obrigada também pelos comentários tão carinhosos que deixam para mim, para minha filha e minha família. Cada dia que abro o blog e leio uma nova mensagem, meu coração se alegra muito! Vocês são muito especiais!


Queridos, também queria avisar todos os amigos aqui do blog que criei uma página par ao nosso Blog no Facebook, chamada Vitória de Cristo e Amigos. Assim, mesmo quando não conseguir escrever com mais calma aqui no blog, podemos manter contato pelo Facebook. Vocês são todos muito bem-vindos!





segunda-feira, 6 de maio de 2013

Seja forte e corajoso!

Espere no Senhor. Seja forte! Coragem! Espere no Senhor. Salmos 27:1



Eu me empenharei para que, também depois da minha partida, vocês sejam sempre capazes de lembrar-se destas coisas. 2 Pedro 1:15 
(apóstolo Pedro, no final da sua vida, lembrando aos cristãos de seu tempo a importância de não esquecerem das promessas de Deus e de manterem viva a fé e virtudes como domínio próprio, perseverança, piedade, fraternidade e amor).



Considero que os nossos sofrimentos atuais não podem ser comparados com a glória que em nós será revelada. Romanos 8:18



Há algumas semanas finalmente encomendei a impressão de algumas fotografias da Vitória, um pacote promocional de 600 cópias que achei na internet. Depois do árduo trabalho de selecionar apenas 600 entre milhares de arquivos, dias depois a encomenda chegou. Quando ligaram da portaria avisando que havia chegado um sedex para mim, desci correndo ansiosa, com o coração acelerado. Peguei a caixa, agradeci e subi correndo de volta para casa, sentindo uma sensação de euforia em saber que naquela pesada caixa que carregava em meus braços havia tantas lembranças guardadas, a história de uma vida registrada em imagens. Era como se estivesse recebendo um presente da Vitória. Como se ela nos dissesse: tive que partir, mas deixarei para sempre com vocês lembranças inesquecíveis, doces e preciosas desse tempo maravilhoso que vivemos juntos. Um presente para vocês sempre lembrarem de como valeu a pena.

Abri a caixa rapidamente e Marcelo e eu não nos contivemos, vimos uma a uma, enquanto ríamos, chorávamos, mostrávamos as fotos mais lindas um para o outro enquanto relembrávamos tantos momentos importantes que iam surgindo diante dos nossos olhos. Temos realmente muitas fotos dela! Conseguir imprimi-las me ajudou a relembrar tudo o que vivemos com ela em um grande panorama. Sua vida foi longa, foi linda, intensa, perfeita, maravilhosa. Os meses na UTI Neonatal, os banhos, as primeiras mamadas, a vinda para a casa, as primeiras papinhas, os sorrisos, exercícios, brincadeiras, passeios, viagens, internações, momentos de luta, momentos de ternura e descanso, momentos de vida.



Ter a fotografia em mãos parece tê-la um pouco mais próxima, sentir a lembrança da sua pele clara e macia, seus cabelos encaracolados e perfumados. Percebemos o quanto sentimos sua falta. O quanto minhas mãos têm saudade de acariciar seus cabelos. Meus braços têm saudade de carregá-la junto ao meu corpo, sentir seu queixo apoiado em meus ombros e seus braços agarrados aos meus, como ela ficava. Minha boca tem saudade de beijar suas bochechas e falar com ela. Meus ouvidos têm saudade de ouvir sua voz me chamando de manhã com um chorinho adorável. Saudade de escovar seus dentinhos com pasta de morango e sentir sua saliva em minhas mãos, e na ponta de meus dedos, a textura de seus dentinhos afiados. Estranho lembrar tantas coisas, mas se fechar um pouco os olhos consigo lembrar de tudo, tudo, tudo... suas perninhas fortes se movendo enquanto era trocada, a temperatura da sua pele e seus olhos iluminados com cílios enormes derramando ternura. Lembro da época da UTI, do cheiro da atadura com que enfaixávamos sua cabeça e da loção perfumada que passávamos em suas roupas. Lembro do peso do seu corpo, abrigado sobre o meu, em repouso.


Lembro da gestação, da sensação maravilhosa de senti-la mexer-se, de andar com orgulho com aquela pequena barriga onde carregava uma vida de muito valor, uma vida envolvida em amor e luz. Lembro com emoção da primeira vez que ela respondeu a minha voz, durante a gestação, num dia de manhã quando acordei triste e comecei a lhe falar o quanto lhe amava. Ela estava quietinha, como se dormisse, e comecei a repetir que lhe amava tanto, tanto, tanto, e as lágrimas começaram a surgir e de repente... TUM! Senti um chute muito forte... o que foi isso? É você, meu amor, é você! E mais lágrimas. Você ouviu que eu te amo, você ouviu!!! E assim ela continuou, tum, tum, tum, estou aqui, estou viva, estou aqui, eu existo, estou aqui, obrigada por me amar, eu também te amo, mamãe. 

Revendo tudo o que foi vivido, sem dúvida alguma, penso em como valeu a pena, como foi lindo, lindo como jamais podíamos imaginar que seria, incrivelmente transformador, as maiores e mais incríveis lições de vida que eu jamais poderia um dia conceber que teria.

Tudo isso que foi vivido é como um precioso tesouro, valiosíssimo, imensurável. Quando recebemos aquele diagnóstico triste, confuso, escuro e doloroso, e aquelas palavras duras e pesadas que ecoavam em nossos pensamentos nos dias seguintes, como pedras enormes que despencavam em nossos corações e sacudiam nosso espírito de desespero e pavor, quem poderia imaginar que estávamos recebendo em nossas vidas um presente tão lindo e especial? Um anjinho cheio de luz, de vida, de amor e ternura? Que mais bem ela nos faria do que nós a ela?

Nós não imaginávamos, naquele momento. Tudo que eu conseguia apenas era chorar pela morte iminente da minha filha e pedir a Deus que fizesse um milagre, que não veio da forma como eu esperava. Mas de alguma forma me recusei a aceitar o que diziam, me recusei a acreditar que aquela vida não tinha valor a ponto de poder ser encerrada tão rapidamente, sem chance de se guardar lembranças, de receber um nome e alguns meses de vida. Aos poucos fomos aceitando aquele diagnóstico da malformação, mas não da forma como nos era passado... minha bebê não era uma monstruosidade que somente me faria sofrer e correr risco de vida, não era incompatível com a vida, ela era cheia vida, talvez mais do que todos nós juntos.

Então receber a Vitória em nossas vidas foi como receber em minhas mãos uma pedra dura, escura, e então perceber que aquilo era apenas um embrulho pintado pelo olhar das pessoas, pelo preconceito, pela incompreensão e pelo medo, e na verdade por baixo dessa imagem criada, estava uma pedra preciosa, brilhante, delicada e rara. Estava minha filha, minha bebê, meu amor.

O que posso dizer para quem me quiser ouvir, a outros pais como nós, é que tenham coragem de olhar além da superfície e das aparências. Não é fácil, eu sei que não é fácil, eu sei que dói, dói muito, mas quando você conseguir enxergar o tesouro precioso que seu filho é, quando você conseguir se libertar das aparências e julgamentos para amar sem limites esse filho, a força e a coragem que inundarão seu coração vão te levar a qualquer lugar, vão te dar forças para viver tudo que precisa ser vivido. Amor gera mais amor e mais força.

Não é fácil deixar partir um anjo, não é nada fácil aceitar que aquele tesouro tão precioso agora precisa partir. Mas hoje se eu pensar no que Vitória teria dito a mim se pudesse falar, antes de partir, talvez seria: mamãe, papai, sejam fortes e corajosos! Deus está sempre com vocês. Obrigada por me deixar vir. Obrigada por me deixar ir. Sejam fortes e corajosos. Amo vocês.




sexta-feira, 3 de maio de 2013

Poema de Outono

Escrevi esse pequeno poema pensando que este é o primeiro outono em que nossa amada Vitória seguiu seu caminho para o céu e nos deixou tantas saudades. Esses dias estava mexendo nas suas fotos e me deu vontade de espalhá-las no chão para rever um pouco de tudo que vivemos com ela. E quantas dias lindos que vivemos em três outonos! Posso lembrar com imenso carinho e gratidão de cada um dos momentos representados nessas pequenas fotinhos no chão! 



Vitória nasceu numa manhã de verão
e faleceu numa noite de inverno,
2 anos e meio depois.

Muitas estações passaram,
tanta coisa se viveu.
O susto trouxe o medo,
a esperança trouxe o sonho,
o amor trouxe alegria,
a partida deixou saudade.

Ela viveu três outonos.
A estação em que as folhas caem
e os frutos crescem.

Em que sementes são plantadas
e a fome, saciada.
Uma estação de aprendizado e colheita.

Ela foi uma pequena plantadora de sementes
de amor, esperança, coragem e fé.

Em nosso primeiro outono sem nossa amada Vitória
nos consolam tantos frutos que ela nos deixou.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Anjinho-bailarina





"Sabemos que se for destruída a temporária habitação terrena em que vivemos, temos da parte de Deus um edifício, uma casa eterna no céu, não construída por mãos humanas". 2 Coríntios 5:1





Tão frágil e delicada a nossa menina
e com tanta força e garra ao nascer.
Suas mãozinhas de bailarina
transmitiam a coragem e doçura do seu ser



A mesma coragem com que nasceu,
foi a coragem com que viveu,
foi a coragem com que partiu,
com a missão já cumprida
era preciso seguir o caminho da vida


Cheia de graça,
voar a viagem desconhecida,
temida,
ou pela fé, maravilhosa
para continuar a sua dança
cheia de amor,
esperança,
com mãos delicadas, fortes,
compridas e finas



É preciso coragem e doçura
pra acenar um adeus
pra acariciar seus cabelos
pra tocar seus lábios em silêncio
para nós o silêncio da saudade
para ela a alegria da chegada
a doce canção de liberdade
de quem partiu sendo livre,
feliz e profundamente amada



É preciso criar o sentido, inventar dança
cantar a saudade e respeitar a vida,
é preciso ser sim como criança
e amar sem medida
um filho que vem e vai no seu tempo
amar apesar do medo imenso
da despedida



É preciso amar, tocar, beijar
e apertar suas mãos delicadas e finas,
cheias coragem
pra seguir adiante com um novo sentido,
pra viver sem a minha bailarina
de mãos delicadas e finas



Que transformou
o problema em poema
o medo em amor,
o choro em saudade,
que tanto me ensinou
com sorriso e coragem
na dificuldade
minha anjinho-bailarina
nossa eterna, doce, adorável menina











sábado, 16 de março de 2013

A história de um quadrinho e a breve história de uma vida



Olá queridos amigos! Achei este post que estava parado e esquecido desde algum mês incerto do ano passado, nos rascunhos do blog. Acho que na época não soube bem como concluir. Hoje reli, gostei e decidi terminar estas reflexões e dividir com vocês. No fundo é a mesma história de sempre, a nossa história, (afinal qual mais seria?), mas tão boa de lembrar, contar, agradecer e reaprender.

Não tenho nenhuma citação para dividir hoje aqui, entre as fotos, somente gostaria de agradecer muito cada 
comentário aqui deixado, todos sempre me emocionam e alegram, e  fico muito feliz quando abro o blog e vejo que alguém deixou um recadinho mesmo não havendo novas postagens. Muito obrigada! Fiquem com Deus e ótimo final de semana!




Antes de nossa amada Vivi nascer eu pintei um quadrinho para ela, com seu nome, para colocar na porta do quarto da maternidade. Na verdade, ela nunca entrou por aquele quarto para ficar comigo. Nenhuma enfermeira a trouxe envolvida em uma mantinha para eu ali acalentá-la, para me ensinarem a trocá-la, dar-lhe banho ou amamentá-la. Havia um bercinho no quarto, mas ficou vazio. Acabamos usando-o para apoiar nossas bolsas.

Mas a pintura era a imagem de uma menina feliz e bonita - era assim que eu imaginava minha pequena menina. Mesmo que talvez ela não tivesse essa aparência exterior, queria pensar nela desta forma, queria pensar que em sua personalidade e sua alma ela era linda e feliz. Quem sabe um dia no céu eu a encontrasse assim, uma mocinha linda e feliz! 

Estranhei que no corredor do quarto onde eu estava na maternidade, não havia outros enfeites nas portas, e desconfio que talvez minha médica tenha tido o cuidado de pedir que me colocassem distante dos quartos onde outras mães estavam com seus bebês, para não aumentar a dor da perda da minha filha, afinal, estávamos preparados para tudo, até mesmo para o fato de que ela poderia nascer já sem vida. Ou foi coincidência, não sei... De qualquer forma ela e todos os que me atenderam foram muito sensíveis, humanos e atenciosos.

Mas já que a menininha não podia ir até o quarto onde estava o quadrinho, o quadrinho foi até o quarto em que ela estava. Fiquei muito orgulhosa de deixar seu enfeite lá, não somente por um dia, mas por 5 meses, ao lado do bercinho em que ela estava no hospital. Para nossa surpresa ela veio para casa e o quadrinho veio junto. E continuou por mais 2 anos e um mês ao lado do seu berço, onde todas as noites ela dormia.  Sim, a menininha veio para casa, depois de fazer uma cirurgia, mas era carequinha, com uns fiapinhos de cabelo espetadinhos crescendo ao redor de uma imensa cicatriz.

Mas após dois anos e meio, ou melhor, 916 dias, finalmente aquela previsão que um dia os médicos me deram aconteceu: minha filha morreria. Sim, eles estavam certos! Minha filha morreu! A previsão deles só sofreu um pequeníssimo atraso de 2 anos e meio. Ah, mas o que são dois anos e meio para uma mãe? Sim, ela tinha vida dentro do meu útero e por 2 anos e meio ela continuou viva, mesmo fora dele. Por si mesma ela respirou, seu coração bateu e uma grande sinfonia começou a ser executada, em meio a uma imensa complexidade de processos biológicos, produção de hormônios, enzimas, divisões celulares, tudo seguiu em frente como se estivesse sendo coordenado perfeitamente por uma orquestra que tem um bom maestro à sua frente. Ah, mas o que é a vida de um filho que nasce com grandes necessidades especiais? Vai ser um grande sofrimento, um peso para a vida toda e, provavelmente - sim, um dia alguém disse isso e todo mundo passou a repetir como bons papagaios bem treinados - provavelmente essa criança não sente nada! Não tem noção alguma de quem é, de quem são seus pais ou do que acontece ao seu redor. São tudo reflexos. Hum... interessante. Será que nossos bebês recém nascidos "normais", "perfeitos", "supersaudáveis",  todos já nascem com uma consciência perfeitamente desenvolvida, cientes de quem são, quem são seu pai e sua mãe e tudo o mais? Ah, não? Um bebê age principalmente por reflexos? Sério? E ele vai aprendendo, interagindo com sua mãe, sua família, com o meio e com as pessoas ao seu redor? Hum...

Bem, aquela menininha que não sentia nada e era só reflexos começou, por meio dos seus reflexos, a nos dizer que apreciava muito quando era carregada no colo. Que apreciava muito estar em contato com o corpo e a pele da sua mãe e do seu pai, e isso a acalmava e fazia sua respiração melhorar. Que às vezes ela não queria virar de lado no berço e ela também não gostava de espirrar. Ela chorava! Ah, mas o que é um choro de criança para uma mãe? Um choro que vem de uma criança que nem deveria viver! Mas aquela menina também começou a sugar. Lá estava ela sugando a sonda desde seu primeiro dia de vida! E quando compramos sua primeira chupeta, mal cabia na sua boca e tínhamos que ficar segurando para não cair, mas ela amou! Quem sabe se alguém tentar lhe dar leite na mamadeira? E não é que a menina conseguia sugar, engolir e ainda respirar, e fazer uma coisa de cada vez sucessivamente de forma que tudo fosse para o lugar certo. Ah, mas o que é ver um filho sendo alimentado, para uma mãe? Um filho que faz tudo somente por reflexos e que nem vai viver muito tempo! 

Bem, para mim estes foram alguns dos momentos mais lindos, únicos e inesquecíveis de minha vida.


E aquela criança começou a viver um minuto após o outro, um dia após o outro, uma semana após a outra, a tomar banho, abrir os olhos, mover braços e pernas, abrir e fechar a boca, soltar a voz de vez em quando, segurar nossas mãos e se abraçar ao nosso corpo quando a abraçávamos. Bem, tudo reflexo? Talvez. Mas aquela criança começou a mostrar que podia sentir dor e também sentir prazer, chorava e se esticava quando ouvia a voz da sua mãe. Estranhava se seus pais ficassem ausentes por muito tempo, se algum deles não chegasse durante a manhã na UTI, lá estava ela de olhos abertos e inquieta, até passava mal.

Apesar de os grandes cientistas, doutores, Phds, os mais renomados e conceituados médicos do país  repetirem categoricamente que um bebê como minha filha não sente nada, que não tem cérebro, logo é puramente reflexos, e não precisa ser considerado um ser humano vivo, logo não precisa ser amado, protegido, respeitado e amparado, ao longo da sua vida e da sua morte, bem, a minha filha me mostrou o contrário. E a sua opinião e os seus sentimentos têm muito mais importância para mim do que o parecer de um médico renomado, conceituado, cientista, doutor, Phd, e qualquer outro título que me inventem para impressionar.

Geralmente a gente tem um script de como as coisas devem ser na nossa vida... geralmente a gente idealiza como será ter um filho, antes mesmo que ele seja gerado, ou enquanto o espera. Às vezes as pessoas idealizam mesmo, esperando que seja tudo perfeito como num conto de fadas. Outros são mais atentos para a realidade, sabem que nem tudo é fácil, que ter um filho implica em responsabilidades, desafios, sacrifício e muita entrega. Mas que mesmo assim é maravilhoso. E dentro de sua idealização conseguem prever dificuldades: um bebê que vai chorar de cólica à noite, pode ter brotoejas no calor, alergias, pode pegar uma infecção de ouvido ou outro problema qualquer de vez em quando.
Talvez essa criança tenha medo de ir para a escolinha no primeiro dia ou que tenha alguma dificuldade de aprendizado ou de comportamento. Talvez ela seja birrenta e se jogue no chão do shopping esperneando,  querendo um brinquedo. Mas acreditamos que tudo será sempre dentro de uma normalidade e vai se resolver facilmente. Certamente haverá um livro falando a respeito, com algum especialista nos dizendo o que fazer. Certamente haverá alguém que já passou por isso e tirou de letra, nossas mães, nossas amigas mais velhas, uma mamãe blogueira famosa, ou quem sabe um médico saberá como resolver o problema.

É interessante que nem tudo na vida é assim. Talvez eu me arriscaria a dizer que nada na vida é assim. A vida não é perfeita e idealizada como imaginamos. Nem nossos filhos. Porque somos únicos, sempre teremos que escrever nossa própria história e por mais que haja milhares pessoas que viveram situações parecidas, teremos que encontrar o nosso caminho, aprendendo a lidar com os problemas que a vida nos apresenta. Aprendendo a criar e dar o nosso sentido e valor para tudo que é vivido.

Lembro quando a primeira médica nos informou que nosso bebê tinha um sério problema. Ela foi muito sensível e feliz em conseguir nos passar essa informação, e nos deixou claro que tínhamos uma escolha a fazer. Eu pensei que precisaria saber de minha filha se ela realmente não teria condições de viver. Se ela realmente queria abreviar o seu ou o meu sofrimento. Muitos médicos nos deram diversas opiniões, alguns de maneira muito infeliz, mas nenhum deles poderia substituir o direito que minha filha tinha de se manifestar e mostrar para que tinha vindo a esse mundo.

Sabendo que seu tempo poderia ser tão breve conosco, tivemos que aprender muitas coisas rapidamente.  Tivemos que conversar com ela. Nossa primeira conversa séria de mãe para filha foi aos 3 meses e meio de gestação. Talvez não houvesse tempo de conversar mais no futuro. Tive que falar para ela sobre a vida, sobre doença e morte. Sobre escolhas da vida e sobre coisas que estão fora do nosso controle. Sobre fé, amor e esperança. 

Sei que muitos adultos não se sentem à vontade em falar sobre determinados assuntos com as criança e às vezes preferem desconversar, dar desculpas, criar versões um pouco irreais... mas quando é sua filha que vai morrer? Quando é preciso falar sobre despedida aos 4 meses de gestação? Temos que falar e tentar tornar aquele momento especial, pois talvez sejam os nossos únicos momentos. Talvez por isso amadurecemos muito. Nove meses valeram mais que nove anos. Talvez mais que noventa anos.

Vitória e eu fomos nos tornando amigas e companheiras. Saíamos para passear, fazíamos as refeições juntas, eu lhe contava que estava lavando suas roupinhas, pintando seu enfeite de maternidade, me preparando para sua chegada. Até limpávamos a casa juntas, pois a situação não estava nem um pouco fácil e não havia como pagar alguém para isso. Muita coisa pôde ser vivida em 6 meses, em meio a alegrias, coisas engraçadas, momentos de choro e apreensão, até percebermos que éramos livres e podíamos sorrir e ser feliz. Dançar na chuva no meio da tempestade.

Mas chegou o momento de nascer e lhe falar novamente sobre as possibilidades: "Filha, amanhã você vai nascer. A médica vai abrir a barriga da mamãe e retirar você daí. Não sei o que acontecerá depois. Talvez Papai do Céu venha te buscar. Se isso acontecer, não tenha medo. Ela vai te tomar pela mão e te conduzir, te levar para o céu. Saiba que eu te amo muito, e que foi maravilhoso ser sua mãe, cuidar de você... um dia também vou partir, e então irei até você e poderei te dar um abraço bem, bem apertado. 
Mas tenho pedido a Papai do Céu que deixe você ficar. Que cure o probleminha na sua cabeça, que faça um milagre. Ele ainda não me respondeu (pausa para respirar fundo). Se Ele deixar, e se você quiser ficar, saiba que eu estarei aqui pra cuidar de você. Eu te amo!"

E assim foi. Com seus reflexos, ela sempre me entendeu, me ouviu e respondeu. Com seus olhos, com seu corpo, com suas mãos ela falava e interagia. Eram reflexos? Sim, provavelmente. Reflexos de amor, reflexos de humanidade, reflexos de vida. Afinal, ela veio até nós para brilhar!




Ah, e que fim levou o quadrinho nessa história?? Bem, ele ainda está aqui em seu quarto, perto do seu berço e das muitas bonecas que guardam o local em que ela dormia. É sempre bom olhar para esse cantinho e lembrar da minha menina. Sim, pois no quadrinho está pintada uma menina que lembra bastante minha filha na idade que tinha quando partiu: cabelos dourados, fofinha, com duas chiquinhas e um sorriso lindo de menina feliz. Hum... Como eu um dia sonhei! ;-)


domingo, 3 de março de 2013

Mais um olá!



Queridos amigos, quanto tempo não é?

Desculpem pois publiquei na postagem abaixo uma série de lembranças, pensamentos, palavras meio soltas, nem fiz nenhuma introdução explicando nada depois de uma longa ausência de novidades por aqui.

Como sempre agradeço todo o carinho, as lindas mensagens e comentários tão carinhosos cheios de palavras de apoio, desde a última publicação em janeiro, no aniversário da nossa gatinha. Muito obrigada!!!

É muito gostoso manter contato com tantos amigos e receber mensagens de tantas pessoas e lugares diferentes. sempre muito especiais.

Também peço desculpas, mais uma vez, pois não consigo responder a todas as mensagens que recebo. Às vezes estou mais tranquila de tempo, e consigo, outras vezes realmente não dá. Mas leio todas as mensagens aqui do blog e em meus e-mails e sou muito grata a Deus por tantas manifestações de amizade e carinho para conosco e com nossa filha.


Também queria compartilhar com vocês uma notícia boa, que tenho guardado há alguns meses: está quase finalizado um documentário sobre a vida da nossa princesinha amada, nossa querida Vitória, produzido pela Estação Luz Filmes (a mesma que produziu o Flores de Marcela). O cineasta Glauber Filho veio gravar as imagens e colher depoimentos aqui em casa em julho, por coincidência 15 dias antes da nossa gatinha partir. Quando tudo ficar pronto e o vídeo for divulgado, avisarei vocês, será uma produção livre para ser divulgada e assistida por todos. Mais um presente de Deus! Neste site eles mencionaram um pouco da história dela e sobre este trabalho.

No mais, graças a Deus nós estamos bem. Estamos trabalhando bastante, correndo, tentando recomeçar e reorganizar nossa vida. Alguns dias são muito bons e felizes, outros nem tanto, e claro que temos que conviver com a saudade que, de tempos em tempos, aperta mais no coração. Mas a paz de que nossa princesa cumpriu sua missão e merecia descansar, a fé de que ela está com Deus e feliz, isso nos conforta e ampara.

Uma ótima semana e fiquem com Deus!!!

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