O Senhor dá força ao seu povo; o Senhor dá a seu povo a bênção da paz. Salmo 29:11
O Senhor será também um alto refúgio para o oprimido; um alto refúgio em tempos de angústia. Em ti confiarão os que conhecem o teu nome; porque tu, Senhor, nunca desamparaste os que te buscam. Salmo 9:9-10
Então lhes disse: "Suponham que um de vocês tenha um amigo e que recorra a ele à meia-noite e diga: ‘Amigo, empreste-me três pães, porque um amigo meu chegou de viagem, e não tenho nada para lhe oferecer’. "E o que estiver dentro responda: ‘Não me incomode. A porta já está fechada, e meus filhos estão deitados comigo. Não posso me levantar e lhe dar o que me pede’. Eu lhes digo: embora ele não se levante para dar-lhe o pão por ser seu amigo, por causa da importunação se levantará e lhe dará tudo o que precisar. Lucas 11:5-8
Por isso lhes digo: Peçam, e lhes será dado; busquem, e encontrarão; batam, e a porta lhes será aberta. Pois todo o que pede, recebe; o que busca, encontra; e àquele que bate, a porta será aberta. "Qual pai, entre vocês, se o filho lhe pedir um peixe, em lugar disso lhe dará uma cobra? Ou se pedir um ovo, lhe dará um escorpião? Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai de vocês, que está nos céus, dará coisas boas aos que lhe pedirem! Lucas 11:9-12; Mateus 7:11
Os filhos são herança do Senhor, uma recompensa que ele dá. Como flechas nas mãos do guerreiro são os filhos nascidos na juventude. Salmo 127:3-4
O que fazer quando você faz uma oração e parece que Deus não te ouviu? E pior, quando parece que Ele fez o contrário do que você esperava? Quando você confiava e parece que sua confiança foi traída? Como confiar em Deus se Ele permite que soframos, que coisas muito ruins aconteçam? Será que realmente Deus nos ama? Será que fizemos algo errado e estamos sendo castigados? Ou será que existe um propósito bom naquilo que não parece ser tão bom? E será que realmente nós conhecemos e confiamos em Deus?
Certa vez, antes de casar, eu fiz uma oração. Pedi a Deus que abençoasse meu casamento com o Marcelo e que nos conduzisse durante toda a nossa vida. Pedi que abençoasse nosso desejo de ser uma família e um dia termos filhos. E que Deus abençoasse nossos filhos. Lembro que orei coisas específicas, para que tivessem saúde, que fossem felizes, enfim, coloquei todo meu coração e minha fé naquela oração. Tínhamos apenas 22 anos e ainda esperaríamos um pouco para aumentar a família. Mas era um sonho pelo qual já estávamos orando. E eu orei todos estes anos para que Deus nos mostrasse o momento certo de ter filhos e que os abençoasse. Eu tinha certeza que Deus estava me ouvindo, como já deixara claro que estava ouvindo em outros momentos.
Quando descobri que estava grávida da Vitória, estava tendo alguns sangramentos e tive que manter repouso. Foram seis semanas de expectativa aguardando que tudo ficasse bem. Tive medo, mas pensei que era um desafio passageiro. Quando fomos fazer o primeiro ultrassom morfológico, com 12 semanas, eu tinha certeza de que tudo ia dar certo. E por isso fui pega de surpresa ao ouvir da médica que não havia sinal de calota craniana no nosso bebê. Que aquilo iria evoluir para anencefalia e nosso filho iria morrer após nascer. Eu não podia acreditar que aquilo estava acontecendo. Desde aquele momento eu pensei em meu coração que Deus poderia mudar aquela situação – afinal havíamos combinado que Ele abençoaria nosso bebê. Oramos e pedimos muito a Deus que aquele diagnóstico mudasse. E não duvidamos de que poderia mudar. Mas não mudou. Ao contrário, só se confirmou. Fiquei sem saber o que pensar. O que dizer para Deus. Não conseguia entender por que aquilo estava acontecendo conosco.
Deus, Jesus nos disse que se um filho lhe pedir algo bom, o Senhor não vai dar algo ruim, assim como se um filho pedir pão, o pai não vai lhe dar uma pedra. Se um filho pedir um ovo, o pai não vai lhe dar um escorpião. Pai, então, porque o Senhor nos enviou uma filha com um problema tão grave se pedimos que a abençoasse? Por quê? Só consegui orar até este ponto, e as lágrimas e o silêncio continuaram quando eu não sabia mais o que dizer para Deus. Depois de alguns minutos, consegui concluir. Pai, me ajude, me responda, por favor. Me ajude a entender.
Apesar das lágrimas, eu me senti bem melhor - estava buscando a Deus com sinceridade e dividindo com Ele a minha dor e as minhas dúvidas. Mais tarde, naquele mesmo dia, contei para o Marcelo sobre estes pensamentos. Disse que estava um pouco decepcionada com Deus, sem entender porque aquilo havia acontecido conosco. Deus havia nos dado uma filha com um problema grave e não a havia curado. Então mencionei aquela escritura bíblica: se um filho pedir pão, o pai não vai dar pedra, se um filho pedir peixe, o pai não vai dar cobra, se um filho pedir ovo, o pai não vai dar um escorpião... De repente o Marcelo me interrompeu e me olhou assustado: “Mas a Vitória não é um escorpião! Ela é nossa filha!”. Fiquei surpresa com essas palavras. "Claro que ela é nossa filha e eu a amo muito, e não é um escorpião. Mas o que quero dizer é que ela tem um problema grave, e por causa disso ela pode morrer, e não entendo porque Deus permitiu que isso acontecesse. Eu confio nele e estou aguardando que tudo melhore, mas realmente não entendo por que isso aconteceu”.
Alguns dias depois, eu tive um sonho. Eu dizia para alguns amigos ao meu redor: Esta é a resposta! Se um filho pedir pão, o pai não vai dar pedra. Se um filho pedir peixe, o pai não vai dar cobra. Se um filho pedir ovo, o pai não vai dar um escorpião... esta é a resposta! E então vinha na minha mente a palavra paz, e eu a repetia: Paz, paz, paz...
Foi uma resposta que eu não esperava: a minha própria pergunta transformada em resposta! Era como se Deus estivesse me dizendo: confie em mim, eu ouvi a sua oração e estou te abençoando, mesmo que agora você não entenda. Confie em mim!
Alguns dias depois eu tive outro sonho: Eu estava numa grande fila em que cada pessoa recebia um copo plástico. Todos recebiam copos perfeitos, mas quando chegou minha vez, recebi um copo amassado. Eu olhei para aquele copo e enquanto observava que era defeituoso e pensava no que fazer, o copo foi completamente torcido na minha frente como que por uma mão invisível. Não havia como utilizá-lo daquela forma. Eu olhei aquilo e então simplesmente disse: “Ó Senhor, tu podes mudar isso”. De repente o copo se desamassou e ficou perfeito. E então novamente como se houvesse uma mão invisível, alguém começou derramar água dentro do copo e ele ficou cheio.
Claro que, quando eu acordei, imediatamente pensei na Vitória e na sua malformação, e no nosso desejo de que Deus a curasse. Fiquei animada, mas ao mesmo tempo não sabia como distinguir se aquilo tudo era uma resposta de Deus dizendo que mudaria o diagnóstico dela ou se era somente uma atividade do meu inconsciente reproduzindo algo que eu desejava muito que acontecesse. Eu tinha consciência da situação e sabia que poderia facilmente me iludir. Sempre tive em meu coração a consciência de que estávamos agindo pela fé e se as coisas acontecessem diferente do esperávamos eu não iria culpar ou responsabilizar Deus. Mas não desistiria de lutar pela vida da nossa filha.
Então nós confiamos e continuamos a amar a Vitória como ela era, incondicionalmente, e independente do futuro. Nós a amaríamos intensamente e não deixaríamos de pedir o melhor para ela. Quando ela nasceu e percebi mais ainda a gravidade da sua malformação, pensei que Deus a levaria em pouco tempo - era para isso que havíamos sido preparados durante a gravidez. Mas para nossa surpresa, mesmo sem sem curada, mesmo com uma malformação incompatível com a vida, ela viveu!
Fomos imensamente abençoados em passar momentos maravilhosos com ela em seus primeiros dias de vida no hospital. Pudemos carregá-la no colo, trocar sua fralda, dar banho, vesti-la, tirar muitas fotos... coisas que não imaginamos que seriam possíveis nas suas condições. Mas quando ela já estava com cerca de quinze dias de vida, começou a apresentar uma série de dificuldades como vômitos diários, quedas de frequencia cardíaca e de saturação de oxigênio. Começou a perder peso a cada dia e ficou muito magrinha e abatida. Eu pensei que o tempo dela conosco estava chegando ao fim. Havia sido muito mais do que o previsto, mas ainda assim, era tão pouco tempo! Pedimos então a Deus que, por favor, deixasse ela ficar mais tempo. Nós a amávamos tanto e a queríamos conosco independente de qualquer problema.
Aquela foi a primeira de uma série de infecções e anemias que ela teve durante a sua internação. Não foi um tempo fácil. Choramos muitas lágrimas e vivemos momentos difíceis com ela. Este blog, apesar de sempre tentarmos ressaltar o lado bom de tudo que estamos vivendo, não esconde os desafios que a Vitória enfrentou e ainda enfrenta. Mas os leitores atentos perceberão que relatamos muitos momentos felizes. Há palavras de gratidão pela vida da nossa filha. Agora eu não tenho dúvida alguma de que ela é uma criança abençoada e que tem nos trazido muita felicidade.
É uma alegria indescritível tê-la conosco. É um privilégio sermos pais dela. A Vitória é uma criança adorável, de uma doçura e delicadeza imensas, tem um espírito forte e guerreiro, e por vezes nos vemos rindo vendo seu jeitinho único de se comunicar, de dizer que não gosta de algo, de dizer que está feliz... Sei que ela é diferente de outras crianças e em algumas coisas ela sempre será diferente. Mas sei que nenhuma criança terá as virtudes que ela tem. Ela é única e muito especial. Ela é insubstituível.
Hoje eu lembro da passagem bíblica do pão e do peixe e entendo que Deus não estava equivocado. A Vitória é uma grande bênção, mais do que podíamos imaginar. Com sua vida, Deus nos ensinou a ver coisas maravilhosas da vida que nunca havíamos percebido. Nos ensinou a confiar e descansar nele e valorizar o que realmente tem valor. E temos tido o privilégio de cuidar dessa linda menina tão adorável. Temos sido imensamente abençoados com a vida da Vitória. Pedimos bênção e Deus nos abençoou. Com muito pão, peixe e ovo, se formos usar a metáfora bíblica. Ele nos deu uma criança maravilhosa com a qual temos nos realizado imensamente como pais. Tenho o prazer de vê-la se acalmar quando a pego no colo, de vê-la feliz de barriguinha cheia, de ajudá-la a relaxar para dormir, de encorajá-la enquanto luta e faz força tentando engatinhar. E de viver a emoção de vê-la tendo grandes progressos!
Sei que, infelizmente, nem todas as crianças com diagnóstico de acrania ou anencefalia têm condições de viver como a Vitória está vivendo. Algumas ficam por um breve período de tempo com seus pais e são recolhidas por Deus. E ninguém pode dizer com antencedência quão breve será esse tempo. Ninguém pode dizer nem de si mesmo quanto tempo mais que vai viver, ou acrescentar uma hora que seja a sua vida se essa não for a vontade do Pai. Mas eu continuo achando que a resposta que Deus me deu não serve só para mim. Lembram-se que no sonho eu a repetia para muitos amigos? É o que ainda estou fazendo agora.
Agradecemos a Deus por estes onze meses da preciosa vida da nossa filha Vitória. Onze meses de vida, de refúgio de Deus em tempos de angústia e de agradáveis surpresas de alegria, vitória e paz. Onze abençoados meses de Vitória.